Na década de 1950 foi lançada na Alemanha uma medicação sedativa, mundialmente usada para combater a insônia. Naquela época, estudos sobre a interação do remédio com o desenvolvimento de fetos não era usual. Ampla publicidade foi realizada entre médicos, sugerindo a prescrição inclusive para grávidas. No Brasil a droga chegou em 1959 chamada Sedalis, nome comercial dado ao talidomina, produzido pelo laboratório Grünenthal.O medicamento foi um grande sucesso comercial. O laboratório estava tão empolgado com a droga que 16 mil pacientes receberam talidomina ainda na fase experimental, incluindo gestantes. Com o passar do tempo apareceram relatos de efeitos colaterais, até então considerados leves. Surgiram artigos de pesquisadores aconselhando o uso não prolongado da droga, pois faltavam pesquisas que comprovassem a eficácia e segurança a longo prazo. O pior ainda estava por vir.Em seguida, diferentes países começaram a registrar um número elevado de nascimentos de crianças com malformações graves nas extremidades, como dedos, braços e pernas, entre outros problemas. Uma coisa em comum: as mães tinham feito uso do talidomina na gravidez. Aproximadamente 15 mil crianças no mundo foram vítimas do remédio, sendo que a taxa de mortalidade chegou a 45%. A maior parte dos óbitos ocorreu no primeiro ano de vida.O remédio foi recolhido entre 1961 e 1965 e levantou uma série de discussões e estabeleceu diretrizes para pesquisas clínicas mais eficientes. O caso foi levado aos tribunais e a empresa alemã concordou pagar altas indenizações. Na sede da Grünenthal, uma estátua de uma criança com malformações mostra que a tragédia nunca será esquecida.No Brasil o caso gerou mais desdobramentos, com a liberação da droga para outros fins. As estudiosas Adriana Moro e Noela Invernizzi escreveram um completo artigo chamado “A tragédia da talidomida: a luta pelos direitos das vítimas e por melhor regulação de medicamentos”, disponível online.Quase 60 anos depois nos deparamos novamente com a possibilidade da utilização de um medicamento sem os estudos necessários a fim de prescrevê-lo para uma nova doença. E olhar para o passado pode nos ajudar a evitar erros futuros.Diogo Cavazotti Aires, mestrando em Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário pela Universidad Católica de Colombia.