Para quem acompanha os números de matrículas na educação superior do país, surge um questionamento muito importante: Por que o número de alunos matriculados está diminuindo e, como consequência, o número de vagas ofertadas não são preenchidas, mesmo quando o curso superior é totalmente gratuito?

Fazendo uma análise no estado do Paraná, que é bastante representativo no cenário educacional brasileiro, verificamos que em quatro universidades estaduais pesquisadas, o número de alunos matriculados diminui ano a ano, sendo que a evasão de alunos aumenta anualmente também.

Enquanto, em 2019 eram 42 mil alunos matriculados, em 2020 esse número caiu para 40,5 mil alunos, em 2021 passou para 38,9 mil alunos e em 2022 foram apenas 35,8 mil alunos. Nesse período, a evasão foi variando no aumento - de 4,8 mil alunos (2019), 4,4 mil alunos (2020), 5,4 mil alunos (2021) e 5,3 mil alunos (2022).

Para se ter uma ideia, vamos usar o exemplo de matrículas e evasão, nos últimos anos, em duas universidades federais do Paraná. Em 2019 tivemos 12 mil matrículas e 5,6 mil de evasão. Já em 2020 foram 10,7 mil matrículas e 2,2 mil de evasão. Em 2021, 11,1 mil matrículas e 5,8 mil de evasão e no ano passado tivemos apenas 10,2 mil matrículas e evasão de 7,4 mil alunos.

Nos dois universos pesquisados, verificamos que em 2020 a evasão diminuiu em relação ao ano anterior, o que tem uma explicação: foi o primeiro ano da pandemia e essas instituições públicas de ensino paralisaram as suas atividades docentes.

Outro dado preocupante é que o número de matrículas realizadas nos cursos superiores gratuitos, tanto na esfera estadual, quanto na esfera federal, está bem abaixo da quantidade de vagas ofertadas. Como exemplo, a cada quatro vagas ofertadas, nas quatro universidades estaduais do estado do Paraná pesquisadas, apenas três tiveram as cadeiras preenchidas. Por que isso acontece?

Ao analisar o cenário por completo, devemos inserir as instituições públicas municipais, bem como, as instituições privadas de ensino. Neste caso, ao verificarmos os resultados do censo da educação superior, publicado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), observamos que o número de alunos que migraram para a modalidade a distância cresceu vertiginosamente, no período de 2019 a 2022. Além disso, existe uma ligeira baixa, ano a ano, na modalidade presencial, mesmo após a pandemia. Ao somarmos o número de matrículas nas duas modalidades, o total é sempre crescente ano a ano.

Voltando, então, para a nossa análise nas universidades estaduais e federais, precisamos avaliar com mais cuidado os motivos que estão levando para uma diminuição da procura por vagas gratuitas, bem como ao aumento do número de alunos que abandonam seus cursos, após terem iniciado seus estudos.

Estamos em 2023, com o mercado da educação bem aquecido. Os números de matrículas nas instituições privadas estão crescendo. Um motivo que deve ser considerado é o fato de um aluno que inicia um curso numa instituição pública não saber quando o terminará, por fatores alheios à sua vontade, como as greves.

Outro motivo de peso a ser considerado é o fato de muitos cursos demandados não terem vagas ofertadas no período noturno, o que impossibilita um aluno que depende do trabalho, durante o dia, ingressar em um curso superior em uma instituição pública. Finalmente, se durante e após a pandemia ficou consolidada a modalidade de educação a distância, questiona-se: as instituições públicas estão preparadas para esse novo cenário da educação no país?

Nelson Pereira Castanheira é doutor em engenharia de produção e exerce cargo de pró-reitor no Centro Universitário Internacional Uninter.