O Brasil é um dos lugares mais caros do mundo para se possuir um veículo. Uma pesquisa realizada em 2016 pela corretora de financiamento britânica CarFinance247 comparou o preço de um Volkswagen Golf 1.4 em diversos países onde ele é vendido. O Brasil apresentou o modelo mais caro do planeta. Na Austrália, por exemplo, ele custa 64,3% do valor cobrado por aqui. Na Índia, o mesmo automóvel pode ser adquirido por apenas 38% do valor.

Um estudo mais recente, de 2019, do portal iCarros, comparou o salário mínimo de cada país e o valor de um Toyota Corolla. A pesquisa revela que o brasileiro tem que trabalhar oito anos a mais que o japonês, o alemão ou o norte-americano para comprar o mesmo modelo - que custa o equivalente a 15,4 salários mínimos do Japão, 18,4 salários mínimos na Alemanha, 19,9 salários mínimos nos Estados Unidos e assustadores 119,2 salários mínimos do Brasil. Até a vizinha Argentina fica mais viável que o nosso país nessa comparação: são 112,4 salários mínimos para comprar um Corolla.

Outro fator importante a se considerar é a desvalorização do carro zero. Estima-se que, em média, 10% do valor seja perdido assim que a compra é realizada. A Receita Federal tem uma tabela para o cálculo da depreciação de veículos que aponta para uma desvalorização anual de 20% para carros de passeio.

Os custos não param por aí. Antes de sair da concessionária, o proprietário tem que arcar com o emplacamento, cujo valor depende do local e do veículo. Em São Paulo, todo o processo feito via despachante pode variar de R$ 400 a R$ 1 mil. O valor do combustível também aumenta muito o custo de se manter um carro no Brasil. Comparando o litro de combustível e levando em conta a gasolina, álcool e diesel, a pesquisa da CarFinance247 aponta um custo médio do litro a R$ 3,68 no Brasil, frente a R$ 1,37 nos Estados Unidos.

Outro ponto importante quando se compra um carro é o seguro. Em alguns países do mundo, ele é obrigatório. No Brasil, é possível optar por não pagar seguro, mas os altos níveis de criminalidade e acidentes praticamente tornam inviável a posse de um veículo sem que ele esteja devidamente protegido. O valor chega a ser 25% mais caro que nos Estados Unidos e quatro vezes maior que no Japão.

Os custos com manutenção são incomparáveis. Nos EUA, na Alemanha e no Japão, os carros duram muito mais quilômetros do que no Brasil, pela qualidade das estradas. Mas até para circular em estradas ruins nós pagamos mais caro. O Brasil tem a maior malha de rodovias pedagiadas do mundo. Ainda temos o IPVA - uma taxa anual que varia de 2% a 4% para os carros e de 1 a 6% para as motos, dependendo do Estado. Nos Estados Unidos, o imposto equivalente não sai por mais de US$ 100 por ano.

Por fim, temos os custos com o financiamento do veículo. A taxa de juros média para adquirir um veículo, em novembro de 2019, era de 1,49% ao mês, segundo o Banco Central. Isso significa que, para quem financiou R$ 30 mil do valor de um veículo, a prestação ficou em média em R$ 1.082,77, para um prazo de 36 meses. Ou seja, terá pago um total de R$ 38.979,72 ao final dos três anos (mais os R$ 3.600 de IPVA) - e o veículo não valerá mais que R$ 12 mil.

Mesmo assim, o Brasil é um dos campeões em financiamento de veículos e mais da metade dos domicílios brasileiros possuem um carro ou motocicleta. Sabe por quê? Porque o brasileiro é, como nenhum outro povo, apaixonado por carros. E além disso, a nova economia é, literalmente, movida por automóveis, conduzidos por motoristas de aplicativos e entregadores de empresas como iFood, Rappi e Loggi.

* Luis Otávio Matias é vice-presidente de Negócios da Tecnobank.