Preservar ponto, linha e mancha urbana. Era uma estratégia simples, incentivada no pioneiro Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Histórico Cultural de Londrina (Yamaki coord., 2002).

Sob essa perspectiva, os trilhos da Companhia Ferroviária São Paulo Paraná - CFSPP (1928) constituíam importante “linha”. Na recém-criada avenida, um largo canteiro central já preservava o caminho dos trilhos como um vazio. Juntamente com os projetistas, o eng. Horner da Prefeitura teve papel singular e sensível no reforço à sua viabilização. A declividade máxima de 2% e as curvas suaves com raio mínimo de cento e cinquenta metros revelam detalhes do projeto ferroviário da concessão de 1928. Nesta época do ano, a florada amarela de dupla carreira de árvores realçam o vazio antes ocupado pelos trilhos.

Em seguida temos a considerar os pontos e manchas urbanas. Tinham a função de dar estrutura e significado a cada trecho da linha. Reinterpretar os inúmeros pontos (edificações e locais de significado histórico cultural) e manchas (bairros históricos) a preservar ao longo do traçado da ferrovia.

Como pontos, podemos destacar: os marcos de caminhamento da Nova Divisa de Terras CTNP incorporadas da concessão Beltrão (1927), as nascentes do ribeirão das Pedras, o cruzamento do ramal 2 da EFCP Ajustada para a CTNP (1925) com a CFSPP (1928), o ponto de charretes, as chaminés da cerâmica Mortari, a Estação Ferroviária e os barracões da rua Paraíba.

Finalmente, como manchas urbanas a considerar: o Patrimônio Três Boccas afastado e independente da Planta de Londrina, a complexa Planta da Cidade projetada por Razgulaeff (1932), o Jardim Agari, a Vila Nova e o Bairro do Shangri-lá.

Surpreende, portanto, a recente solução de demolição, com prazo definido, dos barracões Sahão. Um dos pontos estratégicos na Preservação do Patrimônio Histórico de Londrina. Uma edificação que, com os equipamentos de época que ainda contém, bem poderia comportar um Museu de Café Especial, Museu de Maquinário Agrícola e Beneficiamento ou Museu de Ferrovia CFSPP, entre outros. Deveria ser recuperado. É urgente um plano de resgate de todos os barracões ao longo da ferrovia, viabilizando a continuidade de uso. Existem bons exemplos.

Leio em artigo recente que, em São Paulo, no bairro de Pinheiros, um conjunto de setecentos imóveis tiveram decretados o tombamento provisório. Restringir a modificação nas edificações. Tentar manter a atmosfera de bairro do final do século XIX. Base para o tombamento definitivo. Além disso, mais de mil quadras com vilas em vários distritos da cidade foram inventariadas. Definir área envoltória de verticalização restrita. Evitar o sufocamento dessa configuração urbana tradicional. Juntos, evidenciaram a necessidade de alterações no Plano Diretor.

Tivemos tempo. Os parâmetros de preservação do patrimônio vêm mudando rapidamente. Mais coragem. Mais ousadia Londrina.

Humberto Yamaki, coordenador do Laboratório de Paisagem UEL

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