Desde sempre, os brasileiros foram ensinados que não se deve discutir futebol, religião ou política. Será mesmo? Futebol e religião são temas que dizem respeito a individualidade de cada um. Já a política afeta, direta ou indiretamente, a vida de todos. Realmente não é fácil discutir, racionalmente, a tal da política. Tem muita desinformação sobre o tema. Outro fator é que confundimos política com a politicagem.

Um dos conceitos de política é “arte ou ciência de governar, direcionar, administrar uma organização, Nações ou Estados”. Ou seja, a política é o instrumento para se governar e conduzir, de forma democrática, um país, um estado, um município, visando o desenvolvimento e os interesses de toda a sociedade. Já a politicagem é o uso da política voltada exclusivamente aos interesses pessoais, a troca de favores, a manutenção do próprio poder e perpetuação do espaço político. Politicagem é usar o povo para benefício próprio. É enganar as pessoas com marketing.

A política “nasce” com a revolução agrícola, há mais de 10 mil anos, quando os núcleos urbanos começaram a se tornar cada vez maiores. Os gregos talvez tenham sido os primeiros a organizar e aprimorar essa ferramenta, criando os primeiros pilares para a democracia ocidental moderna. Quem mora em um condomínio tem uma noção mais prática de como funciona a política. Um morador propõe instalar uma sauna no prédio, porque ele gosta de sauna. A proposta é aprovada, sem discussões e com poucas pessoas participando da assembleia. No final, todos irão pagar pela sauna, mesmo que poucos usufruam dela. E quantos moradores fiscalizam as despesas do seu condomínio? Poucos, com certeza. Será mesmo que o síndico está fazendo bom uso do dinheiro arrecadado? Gastando o dinheiro dos condôminos da forma mais eficaz? Não está favorecendo fornecedores? Ou seja, como vivemos em sociedade, se nos omitimos, outros irão tomar as decisões por nós, mas a conta chegará para todos.

O conceito de democracia representativa, onde escolhemos representantes para tomarem as decisões por nós, não é ruim. O problema é que ainda temos muita dificuldade em escolher nossos representantes e um dos motivos é que nem sabemos exatamente a atribuição de cada um. Nem todos sabem qual o papel do vereador, do deputado estadual, do deputado federal, senadores. E dos cargos executivos, como prefeito, governador e presidente, muitos ainda têm uma visão distorcida.

Acreditando que eles são os “salvadores da pátria” ou algo assim, e que, com um passe de mágica, podem resolver todos as mazelas da nossa sociedade. Infelizmente isso não é verdade, mesmo que eles insistam em dizer isso em suas campanhas. Primeiro é preciso conhecer os candidatos e suas propostas. Depois é preciso acompanhar, participar e, principalmente, cobrar os nossos representantes eleitos.

Existem políticos que buscam fazer um trabalho sério e outros que buscam apenas vantagens pessoais. A grande questão é que nossos políticos também são um reflexo e uma amostra da própria sociedade. Se temos políticos ruins, que só fazem politicagem, e que continuam indefinidamente se beneficiando da política, então talvez o problema não esteja só na política ou nos políticos e sim na própria sociedade.

Política faz parte da vida em sociedade, é importante e deve, sim, ser discutida, sem fanatismo, com racionalidade, com respeito e com educação A qualidade e a força de uma democracia estão ligadas diretamente a qualidade e a força da sua sociedade e de seus eleitores. E o voto é um instrumento de transformação social, que devemos usar com inteligência e assertividade. Não existem candidatos perfeitos, mas precisamos escolher aqueles com mais chances de fazer um trabalho sério e honesto.

Denilson Vieira Novaes/ Engenheiro, com especialização em gestão e planejamento, ocupou diversos cargos no setor público