Estamos em ano eleitoral no Brasil. A pouco menos de 100 dias do pleito, assistimos a um espetáculo de horrores, abarrotado de ações violentas, motivadas por algumas autoridades públicas irresponsáveis incentivadoras da cultura do ódio, que, infelizmente, têm terminado em mortes. Até pouco tempo, o discurso de ódio esteve restrito ao espaço das redes sociais e limitado a ofensas e violência verbal. Atualmente as ações já extrapolaram muito o âmbito retórico.

Diante desse cenário de total rompimento do pacto democrático, no qual o medo é utilizado como estratégia eleitoreira, vemos o extremismo fazendo vítimas. Acrescenta-se a isso a manipulação política e econômica que interfere nas instituições públicas, meios de comunicação, igrejas, entre outros espaços, acovardando-as e forçando-as a transmitir a impressão de uma normalidade já há muito tempo inexistente em nosso país.

Infelizmente, os frutos envenenados do ódio semeado aparecem cada vez mais. E quando se espera das autoridades públicas um mínimo de compreensão e tratamento adequado da situação a fim de evitar maiores tragédias, o que constatamos por parte de alguns é o descaso ou incentivo à violência, ainda que por meio de uma retórica subliminar direcionada a extremistas em grande parte desprovidos de freios ético-morais. O que fazer diante de tantos absurdos?

O medo é uma força avassaladora. Em especial em ambientes que trazem um contexto no qual manipulação e fanatismo ganham cada vez mais espaço. Entretanto, paradoxalmente, essa força, destruidora também pode se tornar um freio para evitar piores consequências.

Como propõe, por exemplo, Hans Jonas, filósofo alemão e autor da obra “O Princípio da Responsabilidade”, a heurística do temor não deve nos paralisar, mas nos levar a agir criativamente para evitar as ações e suas consequências nefastas, antes que elas sejam feitas.

É preciso parar o ódio! Não nascemos para odiar. A essência do humano é amor e cuidado. Contudo, em tempos de abuso de poder, arrogância, autoritarismo, manipulação ideológico-religiosa, entre outras mazelas que provocam a desumanização em larga escala, o cuidado com o ser humano, o planeta e tudo o mais que nele habita torna-se quase uma utopia.

A ganância desenfreada de alguns, acompanhada da busca insana pelo poder e sua manutenção, tem nos conduzido a um estado de barbárie, que é totalmente incompatível com a essência do que significa ser humano. Diante dessa trágica realidade, apelamos à sensatez, aos sentimentos mais profundos de cuidado que despertam nosso humanismo, para que o ódio seja contido e a paz se torne a nossa meta e sonho alcançado.

Luís Fernando Lopes é mestre e doutor em educação. Professor do Programa de Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado em Educação e Novas Tecnologias e da Área de Humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter.

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