Perigos digitais, adolescência, família e escola
Ficamos indignados diante de tanta dificuldade, tanto receio por parte das pessoas adultas em falar sobre sexualidade
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 29 de abril de 2025
Ficamos indignados diante de tanta dificuldade, tanto receio por parte das pessoas adultas em falar sobre sexualidade
Adriana de Cunto

Numerosos perigos digitais têm sido revelados, apavorando pais, mães, educadores/as e a parcela da sociedade preocupada com o bem-estar, a saúde e a segurança das crianças, adolescentes e jovens. Podemos citar: os talkings, que realizam perseguição com sérias ameaças pelo celular; os desafios no Instagran, que levam crianças e adolescentes a praticarem atos perigosos, podendo chegar ao suicídio; a roleta russa, brincadeira sexual na qual, recentemente, uma adolescente de 13 anos engravidou; os Incels e assim por diante.
Incels, tema abordado na minissérie denominada Adolescência, da Netflix, composta por quatro episódios, significa celibatários involuntários; são jovens de 13, 14 anos, em sua grande maioria. Trata-se de comunidades na internet ligadas à violência e à forte aversão às mulheres. O filme é um alerta para o perigo de meninos ficarem trancados em seu quarto, pois correm sério risco de serem cooptados por incels e, assim, se tornarem violentos e vítimas de baixa autoestima.
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A constatação de todas essas barbaridades se dá concomitante com discursos que têm levado as escolas a recuarem de sua função de educar os alunos do ponto de vista da moral, da sexualidade e da afetividade. Sim, eu estou falando, sobretudo, da educação sexual. Escola e família precisam se dar as mãos, unir seus esforços e reconhecer o quanto é imprescindível esse trabalho. Até nas situações em que pai e/ou mãe dão uma educação sexual nota dez, as escolas precisam trabalhar os temas ligados à sexualidade, porque, na escola há algo importante que em casa não tem. O que é? Os/as colegas de idade próxima, o que possibilita debates e expressão de sentimentos, angústias e dúvidas.
Debate têm a ver com diálogos, reflexões e não com sermões e/ou discursos autoritários. Na escola, uma boa professora, ou professor, sabe fazer uso de dinâmicas de grupo, por exemplo, que possibilitam trabalhar com sentimentos e com valores morais.
É urgente ensinar nossas crianças, adolescentes e jovens a pensarem de maneira crítica em tudo o que pode afetar, positiva e negativamente, sua vida emocional, seu bem-estar físico e mental e sua segurança. Precisamos, desde pequeninos, ensiná-los a ser sujeitos de sua vida e de sua sexualidade, com liberdade e responsabilidade, jamais entregando a rédea de sua vida na mão de outros, muito menos, de perversos.
Crianças e adolescentes necessitam de conhecimentos e formação e a escola tem que ensinar não apenas os conteúdos programáticos, que servirão, sobretudo, para o vestibular, mas tratar, também, de questões ligadas à vida, pois assim preparará melhor seus alunos e será um ambiente mais motivador.
A Basse Nacional Comum Curricular (BNCC), homologada pelo Ministério da Educação, que consiste em um documento de referência obrigatória para a elaboração dos currículos escolares de instituições públicas e privadas, recomenda “incorporar aos currículos e às propostas pedagógicas a abordagem de temas contemporâneos que afetam a vida humana em escala local, regional e global, preferencialmente de forma transversal e integradora”. Além disso, afirma que as “aprendizagens devem estar sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade contemporânea”.
Ficamos indignados diante de tanta dificuldade, tanto receio por parte das pessoas adultas em falar sobre sexualidade. Muitas crianças e adolescentes se informam sobre o assunto pelas redes sociais ou com colegas e, na grande a maioria das vezes, essa informação tem uma qualidade bastante duvidosa e pejorativa.
Adolescentes que têm uma boa educação sexual intencional, na escola e na família, deixam para se iniciar mais tarde nas relações sexuais, porque entendem a responsabilidade que isso implica e as consequências de uma vivência sexual irresponsável, não segura e prematura na vida de uma pessoa. Essa verdade tem sido constatada em várias pesquisas e reiterada pela Unesco.
Mary Neide Damico Figueiró, psicóloga, professora aposentada da UEL, mestre em psicologia escolar, doutora em educação, autora de cinco livros sobre educação sexual
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