Numerosos perigos digitais têm sido revelados, apavorando pais, mães, educadores/as e a parcela da sociedade preocupada com o bem-estar, a saúde e a segurança das crianças, adolescentes e jovens. Podemos citar: os talkings, que realizam perseguição com sérias ameaças pelo celular; os desafios no Instagran, que levam crianças e adolescentes a praticarem atos perigosos, podendo chegar ao suicídio; a roleta russa, brincadeira sexual na qual, recentemente, uma adolescente de 13 anos engravidou; os Incels e assim por diante.

Incels, tema abordado na minissérie denominada Adolescência, da Netflix, composta por quatro episódios, significa celibatários involuntários; são jovens de 13, 14 anos, em sua grande maioria. Trata-se de comunidades na internet ligadas à violência e à forte aversão às mulheres. O filme é um alerta para o perigo de meninos ficarem trancados em seu quarto, pois correm sério risco de serem cooptados por incels e, assim, se tornarem violentos e vítimas de baixa autoestima.

Leia mais:

'Greve das redes' propõe 24h sem mídias sociais nesta segunda

Ação mira rede de crimes cibernéticos contra crianças e jovens

A constatação de todas essas barbaridades se dá concomitante com discursos que têm levado as escolas a recuarem de sua função de educar os alunos do ponto de vista da moral, da sexualidade e da afetividade. Sim, eu estou falando, sobretudo, da educação sexual. Escola e família precisam se dar as mãos, unir seus esforços e reconhecer o quanto é imprescindível esse trabalho. Até nas situações em que pai e/ou mãe dão uma educação sexual nota dez, as escolas precisam trabalhar os temas ligados à sexualidade, porque, na escola há algo importante que em casa não tem. O que é? Os/as colegas de idade próxima, o que possibilita debates e expressão de sentimentos, angústias e dúvidas.

Debate têm a ver com diálogos, reflexões e não com sermões e/ou discursos autoritários. Na escola, uma boa professora, ou professor, sabe fazer uso de dinâmicas de grupo, por exemplo, que possibilitam trabalhar com sentimentos e com valores morais.

É urgente ensinar nossas crianças, adolescentes e jovens a pensarem de maneira crítica em tudo o que pode afetar, positiva e negativamente, sua vida emocional, seu bem-estar físico e mental e sua segurança. Precisamos, desde pequeninos, ensiná-los a ser sujeitos de sua vida e de sua sexualidade, com liberdade e responsabilidade, jamais entregando a rédea de sua vida na mão de outros, muito menos, de perversos.

Crianças e adolescentes necessitam de conhecimentos e formação e a escola tem que ensinar não apenas os conteúdos programáticos, que servirão, sobretudo, para o vestibular, mas tratar, também, de questões ligadas à vida, pois assim preparará melhor seus alunos e será um ambiente mais motivador.

A Basse Nacional Comum Curricular (BNCC), homologada pelo Ministério da Educação, que consiste em um documento de referência obrigatória para a elaboração dos currículos escolares de instituições públicas e privadas, recomenda “incorporar aos currículos e às propostas pedagógicas a abordagem de temas contemporâneos que afetam a vida humana em escala local, regional e global, preferencialmente de forma transversal e integradora”. Além disso, afirma que as “aprendizagens devem estar sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade contemporânea”.

Ficamos indignados diante de tanta dificuldade, tanto receio por parte das pessoas adultas em falar sobre sexualidade. Muitas crianças e adolescentes se informam sobre o assunto pelas redes sociais ou com colegas e, na grande a maioria das vezes, essa informação tem uma qualidade bastante duvidosa e pejorativa.

Adolescentes que têm uma boa educação sexual intencional, na escola e na família, deixam para se iniciar mais tarde nas relações sexuais, porque entendem a responsabilidade que isso implica e as consequências de uma vivência sexual irresponsável, não segura e prematura na vida de uma pessoa. Essa verdade tem sido constatada em várias pesquisas e reiterada pela Unesco.

Mary Neide Damico Figueiró, psicóloga, professora aposentada da UEL, mestre em psicologia escolar, doutora em educação, autora de cinco livros sobre educação sexual

****

Os artigos, cartas e comentários publicados não refletem, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina, que os reproduz em exercício da sua atividade jornalística e diante da liberdade de expressão e comunicação que lhes são inerentes.

COMO PARTICIPAR| Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. As cartas devem ter no máximo 700 caracteres e vir acompanhadas de nome completo, RG, endereço, cidade, telefone e profissão ou ocupação.| As opiniões poderão ser resumidas pelo jornal. | ENVIE PARA [email protected]

mockup