Pedágio, as coisas mal explicadas - Walmor Macarini
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 03 de fevereiro de 2000
Walmor Macarini
A primeira coisa mal explicada é o nome Anel de Integração, dado pelo governo do Estado para designar o sistema de rodovias pedagiadas no Paraná. Anel pressupõe um grande círculo perimetral rodoviário, integrando toda a malha de rodovias estaduais. Porém esse anel não existe e nem há um projeto dessa natureza. E quanto à integração, nada aconteceu de novo que não houvesse antes, então tudo já estava integrado.
Integração, mesmo, fizeram o governador Jaime Canet (eu disse Canet), que pavimentou 3,4 mil quilômetros de estradas, sem cobrar pedágio; e o governador Alvaro Dias, que pavimentou 3,2 mil quilômetros. Ambos, só com vontade política. Então, é algo também mal explicado essa história de afirmar que o governo não tem recursos para construir estradas, e mantê-las.
Dissemos em artigo recente que a receita do IPVA é de R$ 250 milhões por ano, no Paraná (número não partido de fonte oficial), e terça-feira lemos neste jornal que a frota de 1,8 milhão de veículos tributáveis, em nosso Estado, vai render exatos R$ 250 milhões, até maio. Fora a receita do licenciamento e do seguro obrigatório e a vultosa receita com as multas. Valores que nunca são publicados. E que, afins que são do sistema, deveriam retornar a ele, em forma de manutenção de estradas e até construção de novas, sem a necessidade dessa bitributação (ou seria tri, ou tetra, ou penta?), representada pelo pedágio. Metade da receita do IPVA vai para os municípios, mas o que tem feito o governo com a outra metade?
O diretor regional da Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR), Washington Lemos, diz que os investimentos nos trabalhos iniciais foram de R$ 280 milhões e que a arrecadação bruta foi de R$ 250 milhões no primeiro ano de cobrança do pedágio. Bruta que seja a receita, o capital investido foi quase coberto em um ano, subentendendo-se que em dois anos, que é o tempo de existência do pedágio, os R$ 250 milhões já seriam quase o dobro...
Números oficiais não se conhece, porque a Secretaria dos Transportes não os tem divulgado. Terça-feira lemos neste jornal que os deputados estaduais nem sequer conhecem os contratos do pedágio.
E há algo mais, não compreendido no artigo do diretor da ABCR. Ele afirma que o volume de tráfego atual ou mesmo futuro, ao longo da duração dos contratos (que é de 24 anos), não justifica a construção de novas rodovias, paralelas às já existentes.
Como pode o futurólogo diretor da ABCR afirmar isto? Como sabe ele das necessidades do Paraná, no setor rodoviário, daqui a 24 anos? E, pelo que entendemos desse seu prognóstico, pelos contratos não haverá duplicação alguma até o ano 2002.
Por que, nesta questão do pedágio, tudo é tão nebuloso?
Diz o diretor da ABCR que não existe doação alguma ou seja, doação de estradas para as concessionárias e que o patrimônio construído com o dinheiro do povo continua propriedade do povo. Óbvio e desnecessário dizê-lo, mas se não houve doação no papel houve na prática, pois se temos que pagar para transitar sobre propriedade nossa, então usurparam o que era nosso. Sim, não foram as concessionárias que tomaram nossas estradas, foi o governo que as concedeu.
O diretor Washington Lemos finaliza falando do clima emocional que tem caracterizado as digressões sobre as concessões.
Ah, então toda essa discussão e esse inconformismo dos cidadãos não passa de um clima emocional! Um caminhão de 6 eixos (que transporta mercadorias, sujeitas a agravo de preço com o advento do pedágio), paga R$ 25,80 numa única passagem e isto não é real, é apenas um clima emocional... Nos outros portais esse mesmo caminhão paga variações que vão de R$ 18 a R$ 19,20, a R$ 21, a R$ 24, até o topo de R$ 25,80.
Em verdade as concessionárias estão estribadas em contratos, e, quanto ao aspecto legal, nem há como condená-las. Assim como, dentro do que está convencionado, age certo a Justiça em seus procedimentos. A conversa é com o governador, que a esta altura deve estar se perguntando como pôde assinar esses contratos.
Mas, quando tudo parecia perdido, este jornal abraça a causa pela palavra de seu diretor-superintendente, José Eduardo Andrade Vieira mobilizando lideranças como as do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Paraná, da Federação dos Transportadores de Cargas do Paraná, da Federação da Agricultura do Paraná, da Organização e Sindicato das Cooperativas do Paraná, da Associação dos Abatedouros e Produtores Avícolas do Paraná, da Associação Comercial e Industrial de Londrina e da Sociedade Rural do Paraná, os senadores Alvaro Dias e Osmar Dias, outras lideranças políticas e a bancada do PT na Assembléia Legislativa (que está propondo uma CPI do pedágio e o cancelamento dos contratos).
Esta batalha já nasce vigorosa e tende a mobilizar toda a classe política consciente, certamente culminando por levar junto a opinião pública, que é a que está pagando a conta e foi duas vezes prejudicada: primeiro, quando o governo assinou esses absurdos contratos (absurdos quanto ao modelo); e depois, quando em campanha eleitoreira, reduziu a tarifa em 50% prometendo não mais elevá-la, porém sabendo que feria um acordo contratual e teria que, cedo ou tarde, voltar atrás, tanto que agora negocia aumentos com as concessionárias, porque sofre a ação judicial que inevitavelmente viria.