Pedágio: a artimanha se repete
Começa a se esvaecer a esperança de termos as nossas mais importantes rodovias totalmente duplicadas
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 14 de março de 2023
Começa a se esvaecer a esperança de termos as nossas mais importantes rodovias totalmente duplicadas
Ludinei Picelli
Em 1998 o então governador Jaime Lerner cortou pela metade o valor das tarifas do pedágio com o único e explícito objetivo de se reeleger. A decisão foi unilateral e à revelia dos contratos de concessão; é óbvio que as concessionárias não iriam arcar com os prejuízos advindos dessa "canetada".
Apoiadas por ações na Justiça, ficaram desobrigadas de investir nas estradas, conforme estabelecido formalmente no tratado. Apesar de um novo acordo em governos posteriores, que resultou em desistências das demandas na Justiça e assinatura de aditivos contratuais, o negócio desandou. Obras prioritárias foram postergadas para o final do prazo de concessão, sendo que dezenas delas nunca foram executadas, conforme compromissadas.
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No embalo dessa contenda, um polêmico governador foi eleito e reeleito, apoiado no espetaculoso slogan "o pedágio, baixa ou acaba"; como se tratava de pura demagogia, nada disso aconteceu. Também, práticas de corrupção no sistema foram denunciadas pela Lava Jato e tantos outros ardis, que fizeram os paranaenses sentirem na própria carne a escabrosidade de 24 anos de uma exploração exacerbada, com lucros exorbitantes para os concessionários, incompatíveis com os insuficientes benefícios ofertados aos usuários das rodovias.
Agora, no atual governo, a história se repete por outros caminhos, mas com o mesmo objetivo: a reeleição do governador. Como cancelas abertas rendem votos, principalmente nesse pedágio paranaense de estradas acanhadas e preços fora da realidade, a demora para iniciar um novo processo de licitação foi pontual e estratégica.
Era de conhecimento geral que os contratos venceriam no final de 2021. Portanto, o processo de abertura para o novo leilão deveria ser realizado no início de 2022, ou mesmo antes de vencer o prazo das concessões vigentes. Nada se opunha a isso, muito pelo contrário, era o caminho a ser seguido para evitar essa danosa solução de continuidade da prestação do serviço, o que ora já começa a provocar deterioração da pista de rolamento, danificação da sinalização, falta de segurança e de manutenção em geral, com enormes prejuízos aos usuários e à economia paranaense.
Todavia, desta vez a esperteza política não está dando certo. A tentativa de retomar o processo, após a vitória nas urnas, está esbarrando nas divergências ideológicas entre o governo estadual e o poder central. Enquanto o governador dos paranaenses defende um sistema de cobrança de pedágio que contemple obras de infraestrutura e manutenção da conservação das estradas, o governo federal quer tarifas mais baratas, só de manutenção, mas é insensível quanto à extrema necessidade de duplicar as suas BR's que cortam o Paraná. Nesse ínterim, ficamos à mercê de um DER/PR desmobilizado e de um DNIT sem recursos e que não enxerga as rodovias federais do nosso Estado.
Assim, começa a se esvaecer a esperança de termos as nossas mais importantes rodovias totalmente duplicadas, porque, neste país, os interesses pessoais dos nossos representantes se sobrepõem ao bem estar da população. Nossos políticos já convencionaram que em ano eleitoral não se aprova nada que seja impopular ou que possa prejudicá-los nas urnas.
Desta feita, esperamos que o embate em torno da questão seja célere e conclusivo e que as correntes políticas envolvidas atuem verdadeiramente para acabar com o martírio dos paranaenses, que já foram esbulhados por 24 anos, impunemente, sem dó nem piedade.
Ludinei Picelli, administrador de empresas, Londrina
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