Momento único na história da humanidade do pós-Segunda Guerra Mundial. Momento para pensar, refletir sobre a crise civilizatória que nos envolvemos. Estamos sob ameaça que compromete nossa existência como seres humanos. O que sabemos é que há um vírus letal em curso, que determina a existência real de uma sociedade de risco, alto risco. Fruto de mudanças climáticas, de interesses econômicos ou de falhas, vazamentos técnicos científicos laboratoriais. Vivemos um tempo de urgência de mudança civilizacional, pois são perturbadores os sinais dos tempos.

Momento de verificar as pistas, trilhas e mapas para construirmos uma nova cultura. Para tanto faz-se necessário pensar para além de um cotidiano marcado por formas alienadas, coisificadas de nossa forma de produzir, consumir e organizar a vida. Não mais subjugando a condição humana numa relação de desigualdade crescente e nem tampouco a natureza subserviente às nossas necessidades, ou seja, às necessidades, criadas pelo sistema que nos governa na economia, na política e em nossas mentes.

Preparar desenhos, passos para uma nova cultura trata-se, antes, em desconstruir as formas de esfacelamento das relações humanas, e compreender a finitude humana e planetária. Entender que fazemos parte de um único planeta de vida e com vida. Entender que somos humanidade, "humos", portanto filhos da Terra que nos acolhe e possibilita a vida. E nesse cuidado, não apenas nossa vida humana, mas de toda a manifestação de vida existente da qual dependemos.

A Era do Antropoceno, como os cientistas a definem, agora nos agoniza, precisamos pensar formas de frear e reverter esse processo. O debate, os diálogos criados por uma educação permanente, crítica e aderente ao novo que se apresenta, pode ser um bom começo. Mas necessitamos de mentes abertas, de pessoas que levem a sério o pensamento, a ciência, não como máquina instrumental da lógica que predomina, mas como razão sensível que pensa de forma integral, holística e transformadora as possibilidades futuras.

E fundamental refletir sobre a tensão que nos encontramos e nos envolvemos, numa era de incertezas, nada sabemos do amanhã. O certo é o momento crítico e altamente tenso. Momento ideal para pensar outra janela para com o futuro, que problematize nossa forma de produzir, consumir e organizar a vida. Não cabe tornar a natureza subserviente às nossas necessidades, ou seja, as necessidades criadas pelo sistema que nos governa na economia, na política, em nosso cotidiano e em nossas mentes.

Pensar e educar implicam entender que somos a natureza que pensa a natureza que cuida, a natureza ética que nos acolhe e possibilita a vida. E agora não apenas nossa vida humana, mas toda a manifestação de vida existente no planeta, micro e macro, do planeta que é vida e integra a vida visível e invisível.

Nada destrói mais a natureza do que sua redução à instrumentalização a serviço dos seres humanos, como mero instrumento das necessidades humanas, estimuladas pela lógica consumista que está prenhe no sistema que tudo domina e tudo orienta. Esta visão antropocêntrica agora nos agoniza, nos causa um mal-estar, no qual os mais frágeis, os mais pobres irão sofrer mais, e diante deste quadro revoltante, precisamos pensar formas de reverter esse processo.

Os debates, os diálogos permanentes, continuados, críticos, com a rede social séria e para além dela, e aderentes ao novo que se apresenta, pode ser um bom caminho, um bom começo para entender melhor a sociabilidade que emerge. E, assim, cultivar um novo olhar e o início de um novo fazer para que uma cultura alternativa possa de forma convincente se instalar. E este é um bom momento para acreditarmos e impulsionarmos nossos esforços para isso.

Paulo Bassani, sociólogo e professor da UEL