Agora que o Teatro Ouro Verde será reaberto, achei oportuno contar a história que livrou essa casa de espetáculos de virar banco. Particularmente, entro no caso, e não posso negar que com um certo ufanismo. Ocorre que o outrora cine-teatro já estava com o contrato pronto para ser vendido ao Banco Itaú, que sediaria ali mais uma de suas agências. Na época eu comandava a chefia editorial da Folha de Londrina e, informado da iminência dessa transação, tive uma reação de inconformismo e achei que devia intervir. A função me dava algum poder de influência e decidi que deveria usá-lo.

Cleto de Assis mudara-se de Brasília para cá para assessorar Oscar Alves, reitor da Universidade Estadual de Londrina. Jornalista e artista gráfico, Cleto passaria a atuar também na FOLHA, e foi aí que o conheci. Oscar era genro de Ney Braga, ministro da Educação, ex-governador e poderoso líder político, partidário de Jayme Canet, que então governava o Paraná. Apressei-me em pedir a Cleto que informasse Oscar do iminente negócio com o banco. Oscar então moveu Ney e este moveu Canet, sugerindo ao governador que adquirisse o histórico imóvel para a Universidade. Estabeleceu-se uma corrente, a negociação com o banco acabou suspensa e o Ouro Verde passou para a UEL. A propriedade pertencia a Celso Garcia Cid, notável pioneiro de tantas realizações e que tivera um dia a ideia de construir na nascente Londrina esse cinema, que seria a mais luxuosa casa do gênero no Brasil. Eram seus sócios Jordão Santoro e Angelo Pesarini.

Das confabulações, consta que Ney Braga, sugestionado por Oscar, ligara para Neco Garcia Cid, filho de Celso, pois o patriarca já havia falecido, mencionando o interesse de o Ouro Verde ser adquirido pelo governo e transferido para a Universidade. Tal viria a acontecer. O valor do negócio com o governo não foi revelado. O que sabe é que Ney sugeriu a Canet que entrasse com metade e que ele, Ney (ao afirmar-lhe que voltaria ao governo do Estado), pagaria o restante. O resultado final foi que o cine-teatro não virou agência bancária e aí está, são e salvo.

WALMOR MACCARINI é jornalista em Londrina

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