Imagem ilustrativa da imagem Ouro verde
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Em 1859, no conto “O Espelho”, escreveu o poeta Machado de Assis que “As lendas são a poesia do povo”. Nestas plagas do Norte do Paraná, notadamente na região da nossa cidade de Londrina, que possuem uma das terras mais férteis do Brasil, já ocorreram inúmeros fatos singulares.

Alguns deles: o avião de passageiros que despencou no Bairro Cervejaria. Por acaso, bairro que leva este nome porque aqui fora criada lá uma das paixões nacionais: a cerveja Skol. O assalto cinematográfico a banco com vários reféns com final feliz (para reféns e assaltantes). Um inédito terceiro turno de eleições para prefeito. Tivemos aqui, com orgulho e honra, a única empresa pública de telefonia municipal do mundo - Sercomtel. E, separamos oportunamente para reflexão, aqui em especial, o fato ocorrido em 18 de julho de 1975 : a geada negra.

Já existe um extenso material histórico e jornalístico sobre esta triste prosa do desastre natural de 1975; afinal é um evento com 46 anos do fato gerador. Entretanto, em 2021, temos muito o que colacionar desta adversidade com a hodierna pandemia: a geada negra e o Sars-Cov-2.

Reiteradas reportagens afirmam que na manhã de 18 de julho de 1975, chegou para ficar um novo momento na região da cidade de Londrina. Um acontecimento natural transformou a cor e temperatura da planície Norte do Paraná, os cafezais verdes amanheceram queimados, mortos. O episódio chegou sem avisar, anote-se: sem ocorrer previamente na China, Europa ou até mesmo em outra região brasileira. E, sem a presteza da tecnologia para prever e preparar defesa.

Famílias inteiras entraram em colapso estrutural, financeiro e psicológico. Não tinham informações. Relatos nos mostram que não se entendeu exatamente o que aconteceu naquela noite. Um tanto célere e fulminante.

Ano passado, 2020, sobre o tema, brilhantemente escreveu o jornalista Vitor Ogawa (... da noite para o dia o que era riqueza virou tristeza. A temperatura atingiu 6º C negativos. A Folha de Londrina do dia seguinte estampou na manchete o título “Não sobrou um único pé de café.”)

Com a perda total, daquele dia em diante, o café não foi mais a cultura base da nossa agricultura. Como bem noticiou a Folha de Londrina: Não sobrou um pé de café; perdeu-se tudo. As minas de Ouro Verde desmoronaram.

A desventura natural trouxe tristezas, mudanças e destruições. Entretanto, não perdemos tudo. Como dizia o poeta que queria ir embora para paságarda, Dr. Manuel Bandeira: “A existência é uma aventura, de tal modo inconsequente.” A adversidade é sempre uma rígida professora, e assim ocorreu.

Como já alinhavado, veio de repente e sem defesa. Agricultores e comerciantes não tiveram escolha de abrir ou fechar seus locais de trabalho por um tempo e depois recomeçar com o que sobrou. Simplesmente acabou.

Londrina chorou no dia 18, contudo dia 19 começou a se reinventar, e mesmo sem saber, houve o fato social do “novo normal” por aqui. Caímos, lagrimamos as perdas, mas com união social, nos reerguemos, e hoje somos novamente uma das principais regiões do Brasil. Todavia, agora como polo de educação superior e em prestação de serviços, sobretudo os de tecnologia.

Precisamos ter olhos no exemplo do passado, para criarmos forças no presente e focar no futuro, porque a vida humana é preciosa, vale mais que qualquer quilate de ouro.

Ronan W. Botelho é advogado, filósofo e criador do Movimento Reforma Brasil