Uma democracia forte depende de uma imprensa livre para informar, fiscalizar, cobrar autoridades e contribuir para que opiniões diversas sejam ouvidas.

Ações que vêm enfraquecer o trabalho da imprensa são inadmissíveis. Como a grave denúncia que chegou ao público no começo desta semana, dando conta de que funcionários da prefeitura do Rio de Janeiro fazem "plantão" na frente de hospitais para impedir que jornalistas e cidadãos denunciem problemas da gestão da saúde municipal. O esquema, segundo a denúncia da TV Globo, acontece no Rio. Mas choca a opinião pública em todo o país.

O esquema é articulado em ambiente virtual. Os funcionários são organizados e recebem as escalas por meio de três grupos no WhatsApp, segundo a reportagem mostrou. São eles, "Guardiões do Crivella", "Plantão" e "Assessoria Especial GBP" (Gabinete do Prefeito).

É uma tropa de choque que bate ponto na frente dos hospitais simplesmente para dificultar o trabalho da imprensa e constranger cidadãos que são entrevistados. Dois funcionários do município, flagrados pela reportagem na frente de unidades de saúde, recebem salários entre R$ 3.229 e R$ 3.422 para vigiar o que os usuários do serviço de saúde dizem à imprensa.

A prefeitura do Rio de Janeiro não negou a existência dos grupos, mas alegou que reforçou o atendimento em unidades de saúde municipais para "melhor informar a população".

A denúncia contra o prefeito Marcelo Crivella precisa ser apurada com rigor. É inaceitável que pessoas pagas com verbas públicas passem o tempo articulando contra o cidadão, que merece ter voz. É imoral usar o dinheiro do contribuinte para reprimir informações, justamente em uma área essencial neste momento de pandemia, que é o setor da saúde.

Associações que representam veículos de comunicação e jornalistas emitiram notas de repúdio em protesto à prática de intimidação contra jornalistas e entrevistados.

É um ataque à liberdade de expressão. Presidentes, governadores e prefeitos não podem se opor ao trabalho livre da imprensa. Fornecer informações à sociedade, com transparência e responsabilidade, é dever do poder público.

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