Já sabemos que a produção de plásticos é demasiadamente superior ao descarte adequado, e apenas uma pequena parcela dos materiais é efetivamente reciclada, o que traz consequências graves de longo alcance à biodiversidade planetária e à saúde humana. Por isso, diversas iniciativas internacionais e locais, como o Tratado Global sobre Plásticos, vêm defendendo a necessidade urgente de não gerar e reduzir o consumo.

Atentos a isso, desde o início deste ano, um movimento de estudantes vem estremecendo as rotinas e práticas da UEL (Universidade Estadual de Londrina). Eles se autodenominam movimento Desplastifica UEL. Como o nome sugere, seu objetivo é, entre outros, banir o plástico de uso único na instituição. O movimento, embasado em diversas pesquisas, aponta o plástico como um protagonista da atual crise ambiental e a universidade como uma grande aliada na redução deste tipo de resíduo. E cobra da universidade, instituição formadora de cidadãos e profissionais, a sua responsabilidade em contribuir para um mundo mais igualitário, sustentável e justo.

Formado por 76 estudantes de 16 diferentes cursos de graduação, o movimento atua de forma independente de projetos institucionais. Esses estudantes têm procurado sensibilizar a comunidade acadêmica com intervenções diretas e informais como: disposição de cartazes, exibição de documentários, encontros de limpeza do campus, manifestações artísticas, ativismo nas redes sociais e demandas diretas à administração pela tomada de decisões mais concretas diante da urgência de proibir esse material no campus.

A mobilização foi decisiva para acelerar a aprovação de uma resolução institucional que vinha sendo estudada há dois anos. Hoje, a UEL é uma das poucas universidades brasileiras que decidiram eliminar gradualmente o plástico de uso único no seu campus. Universidades precisam pesquisar e disseminar conhecimentos, formar profissionais cidadãos, mas também liderar e ser inspiração das transformações organizacionais diante de riscos à vida de grandes proporções como a poluição plástica, perda de biodiversidade e as mudanças climáticas.

É claro, diante das gigantescas ameaças ambientais e sociais que devemos e deveremos enfrentar, um dos muitos méritos do Desplastifica UEL é simbólico. Ele nos faz lembrar que os jovens podem ser veículos de surpresas que catalisam mudanças locais e transformação social. A inspiradora atuação estudantil mostra que, sem conhecimento e grande criatividade, coragem e determinação será muito difícil reverter a letargia e a prevalência de interesses de curto prazo de instituições, empresas e pessoas para lidar com ameaças e riscos conhecidos há muito tempo.

Benilson Borinelli e Lilian Aligleri, docentes do departamento de Administração e pesquisadores do Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Resíduos da Universidade Estadual de Londrina (NINTER/UEL)