Os números do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) deste ano são grandiosos: 1.753 municípios, 10 mil locais de aplicação, 4,3 milhões de inscrições, 9 milhões de provas impressas. As provas acontecem neste domingo (3) e também no próximo (10). No primeiro dia, acontecerão as provas de linguagens, ciências humanas e a redação. No dia 10, serão as provas de matemática e ciências da natureza.

O grande número de inscritos (4,3 milhões) revela a complexidade e o esforço nacional para garantir a segurança e a lisura do exame, em que até a Advocacia Geral da União se mobiliza nos dias de provas para assegurar o cumprimento do cronograma.

O Enem, desde a sua criação, em 1998, assumiu importância central na educação brasileira, tanto como instrumento de autoavaliação para jovens em formação quanto como porta de entrada para universidades públicas e programas como o Sisu (Sistema de Seleção Unificada), ProUni (Programa Universidade Para Todos) e Fies (Fundo de Financiamento Estudantil).

Quando analisamos as portas que se abrem por meio do Enem, podemos concluir que não é apenas uma prova, mas uma oportunidade de ascensão social, principalmente para estudantes de baixa renda. Mesmo considerando os desafios e as desigualdades que o sistema educacional brasileiro ainda precisa superar.

Entre os resultados do Enem, chama a atenção a prevalência feminina nas notas máximas de redação: nos últimos anos, três em cada quatro candidatos que atingiram a nota mil foram mulheres. Este dado revela as diferenças de desempenho em áreas distintas do conhecimento. Enquanto as mulheres apresentam vantagem em linguagens e ciências humanas, os homens se destacam em matemática e suas tecnologias, sugerindo a persistência de padrões culturais que orientam desde cedo os interesses e as habilidades desenvolvidas por cada gênero.

Como aponta Flávia Xavier, da Universidade Federal de Minas Gerais, essas diferenças refletem uma educação básica que muitas vezes reforça estereótipos de gênero, direcionando as meninas para áreas ligadas à comunicação e ao cuidado, e meninos para ciências exatas. Situação que pode ser mudada a partir do momento em que a escola incentive todos os alunos a explorarem suas aptidões em todas as áreas do conhecimento.

Outro dado preocupante revelado por resultados anteriores diz respeito à desigualdade racial entre os estudantes com notas máximas, onde a maioria se identifica como branca, com mínima representação entre candidatos pretos e pardos. A ausência de indígenas nas notas máximas na última edição é um reflexo das barreiras históricas e sociais enfrentadas por esses grupos.

Assim, o Enem acaba sendo um espelho do Brasil. Ao analisar suas estatísticas, nos confrontamos com as desigualdades estruturais que permeiam o sistema educacional brasileiro. Assim, cabe ao Estado e também à sociedade civil buscar soluções e firmar compromissos que visem mitigar as disparidades e promover uma educação que seja, de fato, inclusiva e democrática.

Obrigado por ler a FOLHA!