Nunca se falou tanto em transtornos mentais como se tem falado nos últimos anos. E, na mesma proporção, jamais se precisou tanto da especialidade e de seus psiquiatras. Afinal, as pessoas e a sociedade têm aprendido a se cuidar mais e a expressar melhor seus problemas e disfunções. Estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) revela que um terço da população no mundo todo apresenta algum tipo de transtorno mental.

Não se assuste! Quando se fala de transtorno mental, seja leve, moderado ou grave, queremos dizer que é mais comum do que se pensa. Uma desmistificação que se deu com o passar dos anos. São disfunções do funcionamento da mente que afetam qualquer pessoa, em qualquer idade, raça, credo religioso ou classe social: ansiedade, depressão, esquizofrenia, estresse pós-traumático, transtornos alimentares, bipolaridade, somatização, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), por exemplo, são alguns dos mais comuns. Mas, existem muitos outros, como megalomania, cleptomania, hipocondria, mutismo seletivo e tantas outras síndromes. Não é o caso de explicá-las aqui, talvez em outra oportunidade.

O momento é para dizer que a psiquiatria se vê diante de grandes desafios. Acabo de assumir a presidência da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPSIQ) e visualizo esta especialidade no estado com um potencial muito grande no intuito de contribuir com a sociedade como um todo. Somos mais de 300 psiquiatras associados, com possibilidade de dobrar esse número, já que há mais de 600 psiquiatras atuando no Paraná. Profissionais que já desenvolvem excelentes trabalhos, cada qual em sua modalidade ou especificidade médica, nas mais diferentes regiões paranaenses.

Assumo o bastão da APPSIQ das mãos do Dr. Osmar Ratzke, referência na psiquiatria paranaense e atuante na associação desde que ela foi fundada, 53 anos atrás. Sei das responsabilidades de prosseguir o bom trabalho já feito, mas, também, do desafio de se implantar novos projetos. O compromisso médico permanece em defesa da especialidade, da quebra do estigma e de levar informação e conscientização às pessoas, seja por meio da imprensa, trabalhos sociais ou pelas redes sociais. Nós, psiquiatras, devemos estar de prontidão para esclarecer e informar. É nosso dever cuidar da saúde mental das pessoas.

Precisamos olhar para frente. Da mesma forma que as novas tecnologias vieram contribuir para potencializar a comunicação, também devem ajudar a desenvolver a prática psiquiátrica. Novas descobertas científicas, principalmente nas últimas décadas, ajudam a neurociência a entender e compreender melhor o funcionamento do ser humano, desde o mapeamento cerebral aos avanços nas pesquisas genéticas. Tudo abre um universo de possibilidades, permitindo ao médico psiquiatra estar melhor preparado e atualizado com o que há de mais moderno e novo no campo científico.

Por isso, os eventos psiquiátricos realizados em todas as regiões do Paraná (e em todo o Brasil) são importantes instrumentos de atualização médica e divulgação da especialidade. Da mesma forma que as pré-jornadas, realizadas em cada região do estado. Essa é a função da APPSIQ: proporcionar aos médicos psiquiatras, incluindo os ainda não associados, uma formação contínua e atual, conectada ao que há de mais avançado no Brasil e no mundo. Até porque a sociedade espera (e merece) de nós, psiquiatras, uma resposta à altura dos problemas, transtornos e disfunções que descarregam, literalmente, em nossos consultórios.

Pacientes, famílias, amigos e colegas precisam de uma postura médica de prontidão para conselhos, orientação, tratamento, exames e diagnósticos. Acima de tudo, informação e conscientização. Quanto mais debatermos e discutirmos os problemas relacionados aos transtornos mentais, melhor poderemos identificá-los, diagnosticá-los e tratá-los. É nossa responsabilidade defender a psiquiatria e todos que dela padecem.

Júlio Dutra é médico psiquiatra, especialista em saúde pública e presidente da APPSIQ - Associação Paranaense de Psiquiatria