A conhecida frase, ''uma imagem vale mais que mil palavras'', me veio à mente quarta-feira passada quando vi uma fotografia na capa do primeiro caderno do ''O Estado de S. Paulo''. Nela estavam Fidel Castro e Lula sentados lado a lado, barbas viradas de perfil uma para outra. O motivo dos dois estarem mais uma vez juntos devia-se à reunião de partidos de esquerda da América Latina, que se realizava em Havana.
Até aí nada de mais. Todos sabem que Lula e seu PT intitulam-se de esquerda. Além disso, é conhecido o fato de que o tetracandidato presidencial nutre um prazer peculiar em visitar a Ilha e fumar charutos cubanos, considerados os melhores do mundo. Gosto não se discute, mas a questão é que Lula continua em primeiro lugar nas pesquisas de opinião e ninguém pode agora adivinhar o resultado das urnas em 2002. Assim sendo, sua foto com o ditador Castro não é exatamente a de um inocente turista fazendo pose de álbum de retrato e, por isso, prestei atenção na expressão do presidente de honra do PT. Ele contemplava El Comandante-Jefe que lhe sussurrava alguma coisa, e tinha no rosto aquela expressão de embevecimento do discípulo diante do mestre quando aquele coloca no rosto um sorriso beatífico e petrificado. A imagem ilustrava de forma inequívoca, mais que mil palavras, o sublime encantamento de Lula para com o ditador que comanda há 42 anos a desventurada e miserável Cuba.
Anteriormente ao encontro dos partidos de esquerda, o eterno candidato do PT tinha estado mais uma vez na Ilha. Voltou de lá dizendo que ''Cuba é um modelo de democracia''. Achei isso, para dizer o mínimo, excêntrico. Agora a foto confirma algo que vai além: o modelo de Lula é o próprio Fidel Castro. Seria, então, Cuba, um modelo para o Brasil, segundo o candidato à Presidência da República? Deus nos acuda!
Para ser justa, reconheço que há outro companheiro que fascina a magna estrela do PT: Hugo Chávez. Curiosamente, o controvertido presidente da Venezuela enfrentará no próximo dia 10 uma paralisação pouco usual, pois reúne empresários e trabalhadores. Ambas as categorias se posicionarão irmanadas contra as arbitrariedades do governo de Chávez e a gota d'água foi um pacote de 49 itens considerado estatizante, intervencionista e que ''viola de forma grosseira o princípio da propriedade privada'', segundo a Federação de Câmaras da Venezuela (Fedecamaras).
Mas voltando ao assunto do encontro, pode-se dizer que Lula da Silva tem algo a comemorar além do suvenir fotográfico. Ele fez um discurso. Políticos são extremamente egocêntricos e o petista não foge à regra, assim, dá para imaginar sua imensa felicidade quando discursou na sessão de abertura da reunião dos partidos de esquerda. Sentindo-se entre companheiros, foi fundo no ataque à criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Do alto do seu triunfo ele soltou o verbo para gáudio de esquerdas e, para ser imparcial, direitas latino-americanas: ''É um projeto de anexação que os Estados Unidos querem impor. Será o fim da integração latino-americana''.
Mas qual seria, me pergunto, essa tal integração no modelo Castro-Chávez-Lula? Quem sabe a criação da União das Republiquetas Socialistas da América Latina (URSAL)?
Curiosamente, enquanto Lula discursava demonstrando todo seu horror contra a Alca, um grupo de empresários norte-americanos lhe fazia coro, pois, segundo estes, não se deve permitir ''que as leis americanas de comércio justo (fair trade) venham a ser parte de negociações globais da Organização Mundial do Comércio''. Portanto, de novo, o cândido e empolgado Lula defendeu interesses alheios, como quando esteve na França. Naquela encantadora viagem onde se avistou com o primeiro-ministro Leonel Jospin, ele defendeu a política agrícola européia que impede o acesso de produtos agroindustriais brasileiros àquele mercado por meio de barreiras alfandegárias e, ao mesmo tempo, cria condições desfavoráveis nos mercados internacionais à agricultura brasileira ao subsidiar o setor rural francês.
Alguém mais ajuizado do PT deveria tentar moderar os arroubos retóricos de Lula, sobretudo os cometidos em suas numerosas viagens ao exterior. Não pegam bem nem para o partido nem para o Brasil.


- MARIA LUCIA VICTOR BARBOSA é professora universitária
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