Caminhos de mulas definiram a paisagem do Norte do Paraná.

Um mapa elaborado pela Companhia de Terras Norte do Paraná CTNP (outubro 1927), tinha como área de abrangência o trecho entre Cambará e a barranca do Tibagy. O título do mapa: “Zona de Influência da Extensão da Ferrovia São Paulo-Paraná Raiway”. Antecedeu em cinco meses ao Decreto 450/1928 de concessão da Companhia Ferroviária São Paulo Paraná. Foi elaborado ainda antes da Planta Geral da Companhia Ferroviária São Paulo Paraná - CFSPP de autoria da Macdonald &Gibbs. Co. Engineers Ltd. (1928 a 32). É um modelo de análise e estruturação que a Companhia de Terras iria reproduzir nas décadas seguintes.

Consta na legenda, em inglês, do “Mapa da Zona de Influência de Extensão da Ferrovia”, as ferrovias em funcionamento e projetadas, estradas de autos e mule tracks (caminho de mulas). Apresenta também a indicação de cidades com mais de quinhentos habitantes, vilarejos, locais desejáveis para a implantação de estações e cidades. Finalmente, indica os grandes divisores de bacias hidrográficas e a delimitação de áreas de fazendas com mais de 450 metros de altitude. Ferrovia e estrada seguem paralelas. Estradas serviam de apoio à manutenção dos trilhos. A altitude era importante para o tipo de cultivo pretendido.

Os caminhos de mulas seguem a meia encosta. Precedem as estradas de autos. Curiosamente, ambas possuem marcação de quilometragem. Na Planta Geral CFSPP, o caminho de mula que segue ao sul a partir de Jatahy recebeu o nome de Caminho para São Jeronimo. Macdonald utilizou como referência o “Mapa da Zona de Influência da Extensão da Ferrovia”.

Agora, o projeto da Companhia Ferroviária São Paulo Paraná – CFSPP, da barranca do Tibagy à serra de Apucarana. Ferrovia e estrada de autos seguem se entrelaçando. No trecho inicial, a ferrovia ainda acompanha o Velho Picadão Três Boccas. Em outros trechos, a estrada de autos cruza a linha férrea a cada quilometro. A ferrovia precisava obedecer a condicionantes técnicas como declividade, curvas de 150 metros no mínimo e retas para a estação. A picada ou caminho de mulas, em contraponto, seguia o caminho mais livre, confortável. O caminho de mulas antecedeu ao projeto da ferrovia.

Londrina, por exemplo, foi projetada num “Alto”. Fica no cruzamento de duas ferrovias: ramal 2 da EFCP ajustada para a CTNP e a CFSPP. É uma malha xadrez atravessada em diagonal pela picada / estrada a partir de Jatahy e pela picada Ivaí Paranapanema no sentido Norte Sul. A diagonal é a atual av. Celso Garcia Cid que atravessa o terreno da Catedral. Segue assim até atingir a saída na rua Quintino Bocaiuva.

Na planta de Macdonald, a estrada de autos é representada como picada a partir do km 31. Na serra de Apucarana, final do projeto, a picada segue em direção a Pirapó. A ferrovia, por sua vez, para Ponta Grossa e Pirapó.

Finalmente, no plano geral da CTNP, o caminho de mulas ou picada seguiu a divisa de grandes bacias hidrográficas. Recebeu o nome de Estrada Mestre.

Assim, o Norte do Paraná apresenta uma paisagem híbrida: vernacular e planejada.

Humberto Yamaki

Coordenador do Laboratório de Paisagem UEL