Persiste o mito. Ouvimos repetidamente no Norte do Paraná a história de uma ferrovia de fazendeiros, prolongada de Cambará até a serra de Apucarana.

A análise do “Mappa de Viação do Estado do Paraná (1925)” mostra, todavia, a existência de um plano maior. O projeto de uma ferrovia com Linha Tronco e quatro ramais que alcançavam as terras transferidas, entre os rios Tibagi, Ivaí, Paranapanema e Paraná. Era a Estrada de Ferro Central do Paraná transferida e ajustada, da Companhia Marcondes de Colonização (1922) para a Companhia de Terras Norte do Paraná (1925) (Yamaki, 2017).

Esse Mappa de Viação foi organizado e publicado pela Diretoria de Viação, Obras e Colonização do Estado do Paraná. Trazia as ferrovias e estradas existentes e em projeto (Yamaki, 2017). Permite observar o projeto do empreendimento da CTNP e a articulação com estratégias de Governo. Ali estão a áreas demarcada para a Companhia Marcondes de Colonização e a área reservada, caso tivesse documentação comprovando as terras vendidas. O mesmo pode ser visto para a CTNP. Área demarcada e de reserva, caso as terras de contrato já estivessem ocupadas. Ambas as terras de reserva, pouco comentadas até hoje, ficavam perto do Porto São José, na confluência dos rios Paraná e Paranapanema.

Linha Tronco e Quatro ramais da ferrovia no Mapa de Viação (1925) atenderiam as terras da concessão CTNP. A Linha Tronco partia da estação Carambehy da Estrada de Ferro São Paulo Rio Grande (EFSPRG) e seguia até as cabeceiras do rio Pirapó. Ramais alcançavam as terras de concessão e de reserva.

Na publicação "Caminhos para o Brasil", Derron (1928) descreve: “De Congonhas está em construção um ramal de 20 km até Sertanópolis, no rio Tibagy”. E, prossegue: “dessa povoação trabalha-se em uma que permita acesso a automóveis até Barra do Tibagy, Paiol, São Salvador, estando em projeto a sua continuação ao longo do Valle do Paranapanema pelas povoações de Itaparica, Boa Esperança, Santo Inácio e, futuramente até o Porto de São José, à margem do rio Paraná.”

A povoação de São Salvador citada por Derron ficava no final do ramal 2 da EFCP transferida e ajustada para a CTNP em 1925. Partia do rio Bom, afluente do rio IvaÍ, e, seguia ao Norte até as margens do rio Paranapanema. No caminho atravessava o Núcleo Colonial Heimtal. O patrimônio de Heimtal, Londrina e Warta seriam projetados tendo esse ramal ferroviário como eixo.

Assim, ao invés de “prolongamento de uma ferrovia falimentar de fazendeiros”, o plano apresentado no Mappa de Viação era grandioso. Trazia uma ferrovia com Linha Tronco e quatro ramais interligados com a EFSPRG. Além disso, trazia uma estrada de automóveis acompanhando patrimônios nas margens do rio Paranapanema. Outras estratégias. Outro Norte.

Humberto Yamaki, coordenador do Laboratório de Paisagem UEL

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