Em sua réplica à contestação que fiz à carta de 19 de março, na qual defende o armamento da população executado pelo presidente Jair Bolsonaro atende ao desejo da população, a Sra. Nina Cardoso confunde – assim como fez em relação a plebiscito e referendo em sua mensagem inicial – referendo com pesquisa de opinião.

Afirmei que a maioria da população continua, como há 16 anos, quando da realização do referendo, contrária à liberação indiscriminada de armas e munições. O que estava em jogo, reitero, era o artigo 35 do Estatuto do Desarmamento, que proibia a comercialização de armas. O artigo foi rejeitado, o que não permite, a não ser por má-fé, concluir que a população seja favorável ao armamento, pois o Estatuto impõe limites severos a isso. Uma coisa é ser contra a proibição expressa no artigo 35, outra é ser favorável à liberação irrestrita. A missivista indaga como posso afirmar que a maioria seja contra o armamento, se desde então “nenhuma outra consulta popular foi realizada”.

Deduz-se que, para ela, valem apenas as consultas formais, coordenadas pelo Tribunal Superior Eleitoral. Mas são recorrentes as pesquisas de opinião realizadas por institutos idôneos, principalmente a partir de 2018, quando Bolsonaro consolidou sua candidatura à presidência, fazendo da liberação do comércio e porte de armas uma de suas principais bandeiras eleitorais. Exemplos: em abril de 2019, e após Bolsonaro editar as primeiras medidas de liberação, pesquisa Datafolha constatou que 64% dos entrevistados eram contra a posse de armas, e em junho o Ibope apurou que 61% desapropavam afrouxar as regras de posse e 73%, as de porte de armas.

Quanto ao artigo 35 do Estatuto do Desarmamento, agradeço que a missivista tenha, ao tentar me refutar, confirmado por vias tortas que, por depender do resultado do referendo para entrar em vigor, não precisou ser excluído da lei (como ela defendeu em sua primeira mensagem), uma vez que foi rejeitado.

E, por fim, observo sobre o título utilizado em sua réplica – “Para se contestar é preciso ter certeza” – que esta não é a condição para e execução dessa tarefa, que exige informações corretas e precisão de linguagem. Afinal, a certeza é o apanágio dos néscios.

José Antonio Pedriali (jornalista) - Londrina

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