Uma das maiores aberrações do nosso sistema eleitoral é a suplência dos senadores. Eleito, cada qual leva para o Senado dois suplentes que não são votados; simplesmente são escolhidos ao bel-prazer do titular. Esse livre arbítrio suscita situações bizarras dentro da mais alta Câmara do Congresso Nacional.

Imagem ilustrativa da imagem OPINIÃO DO LEITOR - O sistema feudal no Senado
| Foto: Roque de Sá/Agência Senado

Como uma grande parcela dos nossos parlamentares são avessos à ética e à integridade moral, eles indicam como seus substitutos pessoas do seu círculo familiar, dirigentes partidários e financiadores de suas campanhas eleitorais. Geralmente, esses "políticos sem voto" nunca ocuparam um cargo público, mas vão gozar das impudicas regalias do Senado.

Apesar da legalidade do procedimento, trata-se de uma deformidade constitucional, como tantas outras que já foram corrigidas, mas que, neste caso, atende interesses particulares escusos e imorais dos próprios parlamentares que deveriam sanar tal indecência.

Assim, a maioria dos componentes desta casta senatorial formam verdadeiras "capitanias hereditárias" dentro do parlamento, num domínio lesivo e vergonhoso, que atravessa décadas, garantido pelas inúmeras reeleições dos titulares do mandato. Atualmente, 16 desses "não votados" substituem seus titulares, num autêntico desatino que desvirtua a nossa democracia.

Muitos senadores mantém esse padrão deturpado na suplência. O exemplo clássico, e bem atual, é o do senador Ciro Nogueira, que guindou a sua mãe Eliane Nogueira, uma empresária que administra os negócios da família, é neófita em política e não tem experiência em cargos públicos, para assumir a sua cadeira no Senado.

E o mais grave: desde 2019 ela protagoniza um embate com o STF para devolução de 11 mil euros e 9 mil dólares, apreendidos pela Polícia Federal em sua casa, fruto de investigação sobre recebimento de propina para apoio financeiro do partido do seu filho Ciro à campanha para reeleição de Dilma Rousseff, em 2014. Logo, nesse quesito próprio das artimanhas do meio político, ela já demonstra estar bem escolada.

Ludinei Picelli (administrador de empresas) Londrina

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