Dando um "adeus" ao bom senso, com o qual convivemos bons anos. Ninguém sabe exatamente sua idade, já que seu registro de nascimento se perdeu na gaveta da burocracia. Ele vivia segundo sólidos princípios: não gastar mais do que ganha, para que não haja desesperança. Quem manda são os adultos, não as crianças... A sua saúde começou a deteriorar-se quando regulamentos bem intencionados, mas ditatoriais, foram implementados. Notícias de um rapaz de 6 anos que tinha sido acusado de assédio sexual por beijar uma colega; adolescentes suspensos por usarem antisséptico bucal após o almoço; e uma professora despedida por repreender uma estudante malcomportada só pioraram a sua condição. O bom senso perdeu a vontade de viver, quando as igrejas se transformaram em empresas; os criminosos passaram a receber melhor tratamento que as vítimas. O Bom Senso desistiu de viver duma mulher incapaz de compreender que um café fumegante derramou um pouco nas coxas e recebeu uma indenização gorda por isso. O Bom Senso foi precedido no seu falecimento pelos seus pais: Verdade e Confiança; sua mulher, Discrição e suas filhas Responsabilidade e Sensatez. Sobrevieram-lhe quatro enteados: a) Quero isto já; b)Conheço os meus direitos; c) A culpa não é minha; d) Eu sou uma vítima .Poucos foram ao seu funeral, pois poucos deram por sua morte. Se ainda o recordarem reencaminhem a notícia, se não, que descanse em paz.

Wilson Oliveira Trindade (bacharel em Direito) Londrina

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