Vamos conversar, eu e você, de vagabundo para vagabundo. Sim, de vagabundo para vagabundo, e não se assuste pois é assim que funciona o novo Brasil.

Durante a CPI que investiga os motivos que já levaram à morte de quase meio milhão de brasileiros devido a Covid-19, um senador chama o outro de vagabundo que prontamente responde: “Vagabundo é você!”

Depois eles voltam ao normal: “Vossa senhoria é um vagabundo porque tem 17 indiciamentos no STF” ao que o outro responde: “Vossa senhoria sim é vagabundo porque recebe parte do salário dos funcionários do seu gabinete.” Qual é o mais vagabundo?

De qualquer forma o final deve ser o mesmo, como em 1963 quando o pai do ex-presidente Fernando Collor, o então senador por Alagoas Arnon, matou com um tiro e por engano outro senador dentro do próprio Senado... Sim, é claro, mesmo tendo disparado 3 vezes com seu revólver, ele foi absolvido pelo STF. Então até aqui nada é novidade.

Um general do Exército Brasileiro, o mais alto posto que um militar pode chegar (exceto em tempos de guerra) é interrogado pelo senador, aquele que foi chamado de vagabundo e é investigado em 17 inquéritos, e afirma: O general é um mentiroso, mentiu 14 vezes!

O general, quase se borrando de medo, teve que pedir pinico ao STF em forma de um habeas corpus. Cá para nós, de vagabundo para vagabundo, em quem acreditar?

Em outro evento igualmente vergonhoso para a nação, O ministro do STF que autorizou a PF a investigar o ministro boiadeiro é investigado pela própria polícia federal. Será que ele será absolvido por ele mesmo?

Aliás, o ministro/juiz, que foi indicado por um ex-presidente que era ladrão e agora não é mais, teve que autorizar a investigação às escondidas da Procuradoria Geral da República, justamente o órgão que deveria ter solicitado a investigação! Dá para entender?

Também não entendo, sinto-me um vagabundo, não como os ladrões, mentirosos e incompetentes que mencionei acima. Sinto-me como O Vagabundo, personagem criado por Charles Chaplin há 100 anos em meio a Grande Depressão, onde ele retratava o cidadão comum que além de lutar pela própria sobrevivência tinha ainda que enfrentar a indiferença, o descaso e a roubalheira promovida e/ou ignorada pelos donos do poder.

De vagabundo para vagabundo: Até quando vamos engolir a farra dos políticos, os juízes indicados e a incompetência de quem deveria governar?

Rubem de Oliveira Cauduro (professor) Londrina

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