Imagem ilustrativa da imagem OPINIÃO DA FOLHA - A saúde dos hospitais filantrópicos
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Enquanto a demanda aumenta, a receita diminui. Em qualquer cenário econômico essa equação é garantia certeira de prejuízo. E o quadro se torna ainda mais grave quando a situação envolve um setor essencial em uma sociedade carente de bons serviços como a nossa: a saúde. Motivo de manchete desta FOLHA na edição de ontem (20), a crise financeira nos hospitais filantrópicos de todo o País precisa ser discutida com a relevância e a urgência que o assunto merece.

Somente no Paraná, os 147 hospitais filantrópicos em atividade são responsáveis por 54% de todos os atendimentos públicos no Estado e mais de 70% das internações de alta complexidade, segundo informações da Femipa (Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Estado do Paraná). Não por acaso, a entidade está liderando um movimento nacional para cobrar maior aporte do Ministério da Saúde aos atendimentos prestados pelo SUS.

Aos números: a Femipa estima que no País a dívida dos hospitais passa dos R$ 20 bilhões, o que impacta diretamente na dificuldade ou impossibilidade de melhorar a infraestrutura nas unidades, cada vez mais sucateadas em setores em que a tecnologia é tão necessária quanto a habilidade nata dos profissionais de saúde.

Em Londrina, onde os dois hospitais filantrópicos são referência em várias frentes de atendimento – Santa Casa e Evangélico -, a realidade reflete o panorama nacional. As duas instituições somam juntas déficit mensal de R$ 6 milhões com o SUS. No Evangélico, o superintendente do hospital disse à FOLHA que embora a capacidade seja de 480 atendimentos de internação, estão sendo realizados 707. Os recursos advindos dos procedimentos do plano de saúde, convênio e particulares, que deveriam aplacar o prejuízo com os atendimentos públicos, são insuficientes.

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O cenário se agravou durante a pandemia de coronavírus, já que enquanto a doença estava ainda incontrolada as receitas previstas com os procedimentos particulares caíram, porque a prioridade dos hospitais passou a ser tratar dos doentes que desenvolveram os casos mais graves de Covid-19. Não obstante, a melhora nos números da pandemia provocou um aumento na procura pelos tratamentos hospitalares, fazendo crescer também os custos com material, medicamento, honorários médicos, entre outros.

Na Santa Casa, de acordo com o superintendente, a média financeira de cobertura do SUS baixou de 60% para 40% durante a pandemia, enquanto as receitas também caíram. Lá, 83% dos atendimentos são pelo Sistema Único de Saúde, cuja tabela não é reajustada há 15 anos, conforme disse ele à FOLHA.

E o que chama a atenção nesse cenário pavoroso é que dinheiro para investir no setor há, o que falta é elencar prioridades. Enquanto a Câmara acelerou aprovação do fundão eleitoral em mais de R$ 5 bilhões para abastecer os partidos que disputarão o pleito de outubro, e o tal do orçamento secreto contempla emendas milionárias aos “amigos do rei”, um projeto de lei que prevê R$ 2 bilhões para os hospitais filantrópicos e santas casas está parado na mesma casa legislativa e sem previsão de ser votado em plenário.

E já que o ano é eleitoral, motivos não faltam para que a sociedade tome uma injeção de conscientização e avalie quais candidatos estão de fato comprometidos com a saúde pública.

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