Sem limites. Fora de controle. Alta tensão. As expressões sobre o câmbio ontem no Brasil foram todas de pânico. Nem os analistas financeiros encontravam explicação. A cotação da moeda norte-americana explodiu a ponto de aproximar o real do valor do peso, a debilitada moeda da vizinha Argentina que vive uma crise histórica e está há meses 'sem chão' para usar outra expressão do mercado financeiro.
''O dólar virou uma relíquia'', afirmava à Agência Estado, no meio da tarde, José Roberto Carreira, gerente de corretora, assustado como todos os brasileiros com o câmbio absurdo de R$ 3,20 àquela altura. O fechamento não foi muito melhor: um dólar terminou o dia valendo R$ 3,18. Sem precedentes.
A única explicação lógica para a loucura cambial era a de que empresas importadoras e com dívidas em dólar, sem linhas de crédito no exterior para rolar os seus débitos, elevaram muito a demanda pela moeda norte-americana. Como os bancos não querem recorrer aos seus 'estoques', prevendo valorização maior, a cotação disparou. ''Produto escasso não tem preço'', dizia outro corretor do mercado, Sidnei Nehme.
Como o problema das empresas endividadas em dólar não surgiu ontem, outra dedução dos analistas para a histeria do mercado do dólar, nesta segunda-feira, foi a de que teria caído mal, muito mal, a declaração do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Paul O'Neill, no domingo. O'Neill, que virá ao Brasil na semana que vem, afirmou que o Fundo Monetário Internacional vai pensar muito antes de oferecer novo crédito ao Brasil. A explicação do secretário do Tesouro é ainda mais explosiva que a previsão. O'Neill disse que qualquer nova ajuda ao País terá que ser muito bem estudada ''para não acabar numa conta na Suíça''.
Não deixa de ser curioso. Enquanto o governo brasileiro alimentou com juros indecentes o apetite dos investidores internacionais, o Tesouro americano jamais mostrou receio com o destino dos dólares que emprestava ao País. Com o governo FHC em seus últimos suspiros, surge a 'solidária' preocupação com o uso desse dinheirão que pinga no caixa federal sempre que a coisa aperta.
Ruth Meira