Todos os anos os Emirados Árabes Unidos ganham as manchetes dos noticiários. Seja pelos grandes eventos, como a COP28 no fim do ano passado, seja pelos seus prédios gigantes ou pela economia pujante, o país é pauta frequente na imprensa brasileira e internacional.

Em fevereiro, participei de uma comitiva do governo de Santa Catarina, que, assim como outros estados brasileiros, tenta abrir as portas do comércio internacional a partir desse importante polo. Minha empresa mantém negócios nos Emirados Árabes há alguns anos e, durante esse tempo, pude conhecer um pouco da realidade local.

Diante dessa exposição frequente, muitos se perguntam: o que os Emirados Árabes Unidos têm a ensinar ao Brasil? Antes de responder propriamente, vale trazer um pouco de contexto. Até os anos 1960, Dubai, hoje uma metrópole global, era apenas uma pequena vila de pescadores.

A descoberta do petróleo trouxe, em um curto espaço de tempo, muitas receitas. O segredo, no entanto, é o que veio em seguida. Os árabes souberam aproveitar a riqueza produzida a partir de uma matriz e diversificar os investimentos. Essa pulverização fez com que o país se tornasse um hub para diversos setores, como o financeiro, o comércio exterior e a tecnologia.

O trabalho de construção do país que o mundo conhece hoje começou pouco depois do início da exploração do petróleo. Inicialmente, houve investimentos pesados para tornar o país um bom lugar para se viver, mesmo com todas as adversidades climáticas e geográficas que existem. Em seguida, foi realizada uma intensa propaganda para que pessoas de todo o mundo conhecessem os Emirados Árabes e quisessem morar e investir por lá. Usando os termos do marketing, dá para dizer que a taxa de conversão foi muito boa.

Todos esses fatores colocaram este pequeno grupo de emirados do Oriente Médio na posição destacada que se encontra. Mesmo que o petróleo acabe, o país jamais voltará a ser apenas uma vila de pescadores.

Chegamos então à pergunta: e o que Brasil tem a ver com isso? Nós já temos o nosso petróleo, que é o setor agroindustrial. O que nos falta é apostar pesadamente na diversificação da matriz econômica para que o país possa, enfim, dar o salto de desenvolvimento há tempo aguardado.

Os árabes aprenderam isso rapidamente e hoje trabalham com setores escaláveis. Eles entenderam a transformação digital pela qual o mundo está passando. O Brasil, por sua vez, segue atrelado a um sistema de lobbies de alguns setores que olham somente para si, desconsiderando a essencialidade que serviços e tecnologia têm para toda a economia de um país.

A boa notícia é que ainda há tempo para mudar. O Brasil tem capacidade para se adaptar, no médio e longo prazo, à economia do século XXI. Basta haver vontade de todos os envolvidos, do governo à iniciativa privada.

Lisandro Vieira, CEO da WTM International e diretor do GT de Internacionalização da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE)