O preço do café ameaça um típico hábito brasileiro
Com a renda pressionada pela inflação e o custo de vida, o café, símbolo do cotidiano nacional, está se tornando um item de luxo
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segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
Com a renda pressionada pela inflação e o custo de vida, o café, símbolo do cotidiano nacional, está se tornando um item de luxo
Folha de Londrina
O café faz parte da cultura brasileira e, no caso do londrinense, a nossa relação com essa bebida ultrapassa o simples hábito. A cidade foi responsável, na década de 1960, por cerca de 51% do café produzido no mundo e não à toa foi chamada de Capital Mundial do Café.
Mas a tradição do café, tão enraizada na cultura e na economia do brasileiro, no momento enfrenta desafios significativos diante da alta expressiva nos preços, motivada por uma combinação de fatores climáticos, econômicos e comerciais.
A reportagem conversou com empresários que estão resistindo em repassar integralmente os custos ao consumidor, atitude que merece atenção, justamente como estratégia para não espantar a freguesia para estimular o consumo adicional dentro das lojas. Mas é claro que isso não é suficiente para aliviar os impactos de um problema estrutural.
Porém, em um contexto onde o preço da matéria-prima segue em escalada — com a saca de 60 kg podendo atingir R$ 3 mil até o fim do semestre —, não se pode ignorar que a sustentabilidade dessa estratégia está ameaçada.
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O fato é que para o consumidor, o impacto é evidente. Com a renda pressionada pela inflação e o custo de vida, o café, símbolo do cotidiano nacional, está se tornando um item de luxo. As adaptações já começam a aparecer: porções medidas com maior rigor, cortes de consumo em empresas e a necessidade de “vaquinhas” para manter a tradição nas reuniões de trabalho.
A barista, consultora e ex-proprietária de cafeteria, Fernanda Correa, CEO da Rota do Café - Roteiros e Experiências, acredita que alguns consumidores talvez diminuam o número de cafezinhos durante o dia, mas prevê que a maioria não vai mudar os hábitos.
Por enquanto, o consumo doméstico de café continua resistindo ao cenário de preços nas alturas. É a segunda bebida mais consumida no mundo, e o Brasil mantém sua posição como maior produtor global, com recordes de exportação em 2024. Mas, se o futuro do mercado promete estabilidade somente em 2026, como preveem especialistas, será necessário um esforço conjunto — de produtores, comerciantes e consumidores — para atravessar esse período de turbulência sem que o café perca seu papel de protagonista na cultura brasileira.
Para muitas famílias descendentes de imigrantes japoneses, italianos e outras etnias que trabalharam nas lavouras do Sul e Sudeste, trata-se de um elo entre a história e o cotidiano brasileiro, que merece ser protegido.
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