Pope Francis waves before speaking to the crowd during his Angelus prayer from the window of the apostolic palace overlooking St Peter's Square at the Vatican, on March 27, 2022. (Photo by VINCENZO PINTO / AFP)
Pope Francis waves before speaking to the crowd during his Angelus prayer from the window of the apostolic palace overlooking St Peter's Square at the Vatican, on March 27, 2022. (Photo by VINCENZO PINTO / AFP) | Foto: Vicenzo Pinto/ AFP

Não é de hoje que os católicos de todo mundo escutam falar que o papa Francisco tem um projeto reformista para a igreja católica! Eu prefiro usar o termo reformador. Mas no que concerne ao documento que foi apresentado dia 21 de março e entrará em vigor no Pentecostes, dia 5 de junho, sob o título em latim, praedicate evangelium, será justo lembrar que os trabalhamos que conduziram a esta Constituição, são anteriores à eleição deste papa.

Outrossim, diga-se que será uma suma elaborada, das reformas já implementadas nos últimos anos, por Francisco. O cerne de todas elas e desta síntese, é com certeza a essência do próprio cristianismo e da Igreja em si, na sua missão: uma estrutura que esteja por excelência a serviço da evangelização, primordial objetivo da Instituição Católica!

A administração central da Igreja se dá através da Secretaria de Estado, dos tradicionais Dicasterios e Organismos juridicamente iguais entre si e em geral comandados por cardeais e bispos. Para agilizar e otimizar os seus objetivos, o papa procedeu a algumas articulações entre eles.

A mais significativa foi a união do Dicasterio para a Evangelização, com o Pontifício Conselho para a Nova Evangelização. Com uma novidade: quem comanda diretamente esta superestrutura é o próprio papa!

Tratando-se do papa Francisco, também não ficamos surpresos com a elevação da “Esmolaria” da Santa Sé (um organismo que cuidava da caridade e da ação social), ao status de Dicasterio! O “Dicasterio para o Serviço da Caridade”!

Assim ele fica definido: “O Dicastério para o Serviço da Caridade, também chamado Esmolaria Apostólica, é uma expressão especial da misericórdia e, partindo da opção pelos pobres, os vulneráveis e os excluídos, exerce em qualquer parte do mundo a obra de assistência e ajuda a eles em nome do Romano Pontífice, o qual, nos casos de particular indigência ou de outra necessidade, disponibiliza pessoalmente as ajudas a serem alocadas".

A Comissão para a proteção de menores, que se revestiu de grande importância nos últimos anos, passou a integrar o Dicasterio para a Doutrina da Fé, embora funcione com autonomia nas regras e com o seu pessoal próprio. A Comissão tem a tarefa de prevenir os crimes; a seção disciplinar do Dicasterio, deve conduzir a ação criminal contra eles!

Porém, creio que o mais relevante desta Constituição Apostólica, seja o que encontramos logo no início: “Todo cristão, em virtude do Batismo, é um discípulo-missionário na medida em que encontrou o amor de Deus em Cristo Jesus. Não se pode ignorar isso na atualização da Cúria, cuja reforma, portanto, deve incluir o envolvimento de leigas e leigos, também em papéis de governança e responsabilidade"!

Isto já aconteceu com a nomeação de um leigo, Paolo Ruffini, como prefeito do Dicasterio para a Comunicação. Torna-se este fato possível, na medida em que o poder de governo na Igreja não vem do sacramento da Ordem, mas da missão canônica, concedida pelo Santo Padre.

Como nos encontramos num momento de sinodalidade em que a palavra mágica é “escuta”, o modus operandi da Cúria Romana não poderá ser outro, que não a comunhão com os bispos nas respectivas dioceses, estando inclusive a seu serviço! Após o Concílio Vaticano II da década de sessenta, as Igrejas Particulares (dioceses) obtiveram a importância devida, e nada mais justo e lógico que a Administração Central no Vaticano as contemple como “o lugar por excelência onde acontece a missão primeira da Igreja”.

O atual papa age discretamente, mas de modo eficaz. Não têm sido poucos os discursos, os documentos e as atitudes que denotam uma vontade explícita de atualizar as premissas do mencionado Concílio tornando a Igreja cada vez mais fiel ao seu Fundador e relevante no mundo atual. A Cúria romana precisava captar a urgência desta premissa e se tornar ágil no governo da Igreja à luz do que se propõe o atual papa!

Contudo, “Curia semper reformanda”. O antigo axioma sobre o caminho sempiterno da reforma da Igreja, vai bem com o processo de reorganização da Cúria Romana!

Manuel Joaquim R dos Santos é padre na Arquidiocese de Londrina