A exoneração do secretário de Cultura Roberto Alvim deu o que falar. Além da demissão, envolta em críticas por usar na apresentação do seu projeto cultural uma simbologia nazista - incluindo frases do discurso copiadas de Joseph Goebbels -, o ex-secretário deu, depois da queda, uma declaração tão estapafúrdia quanto sua rápida passagem pelo governo. Ele afirmou que começa a “desconfiar não de uma ação humana, mas de uma ação satânica em toda essa horrível história” (sic).

Com Regina Duarte, que aceitou nesta segunda-feira (20) “fazer um teste” à frente da Secretaria da Cultura, o governo pode recuperar um pouco da imagem perdida numa queda de braços com o segmento artístico que já dura algum tempo. Para complicar, o setor completou com a demissão de Roberto Alvim um saldo de três saídas de secretários que assumiram e largaram a pasta no primeiro ano do governo.

A dança de cadeiras quase já se tornou praxe, mas a "performance" de Alvim, que precipitou sua saída, deixou claro que o dramaturgo não soube dimensionar as diferenças entre o que pode fazer no palco e o que fazer num discurso à nação como gestor cultural.

E de Regina Duarte, o que esperar? Ainda que por enquanto ela faça apenas um "teste", segundo suas próprias palavras, a atriz chega a Brasília para mostrar que se é possível uma boa artista ser também uma boa gestora cultural, coisa que só poderá ser provada se ela passar da fase de teste para aceitação definitiva do cargo.

Bolsonaro já se dispôs até a remontar através de uma MP o Ministério da Cultura - que ele mesmo desmontou assim que assumiu o governo - para fazer jus à fama da atriz que mereceria um status maior, o de ministra, em vez de apenas secretária como seus antecessores.

A Namoradinha do Brasil, que também já foi a Malu Mulher na televisão – embora não se identificasse com a personagem, como disse numa entrevista –, terá agora que escolher entre ser uma “figurante” à frente da Cultura, no papel apenas de uma atriz carismática comandada por ordens alheias aos seus projetos, ou assumir de fato a responsabilidade de ser a gestora mais importante da cultura em nível nacional, com ideias próprias, alimentando um canal de confiança que parece perdido entre o governo e os artistas.

Ao aceitar o teste, ela foi clara na sua disposição de pacificar a cultura, afirmando que quer uma gestão “para pacificar a relação da classe (artística) com o governo.”

Para isso, desde a sua indicação ela conta com o apoio esperançoso de algumas pessoas e a reprovação ferrenha de outras ligadas ao meio artístico. O fato é que a “noiva” das políticas de Bolsonaro terá que andar de forma muito cuidadosa no seu novo caminho até o altar, sob a pena de se casar com o governo e com a classe artística ou acabar se divorciando dos dois, caso seu papel não dê certo. Se vai ser bom, só o tempo dirá.

A FOLHA deseja a todos uma boa leitura dos fatos.