O mito da representatividade sindical
Ao contrário do que sugere o texto, os sindicatos perderam há tempos sua função representativa
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segunda-feira, 05 de maio de 2025
Ao contrário do que sugere o texto, os sindicatos perderam há tempos sua função representativa
Ruy Carneiro Giraldes Neto
O artigo “O maço e o cinzel” (Espaço Aberto, 01/05) apresenta uma defesa nostálgica do modelo sindical brasileiro e da CLT, enaltecendo sua história e função social. Contudo, essa visão ignora transformações profundas do mundo do trabalho e os problemas estruturais que tornaram sindicatos e legislação trabalhista, em muitos aspectos, anacrônicos e distantes das reais necessidades dos trabalhadores contemporâneos.
Ao contrário do que sugere o texto, os sindicatos perderam há tempos sua função representativa. Dados do IBGE mostram queda acentuada na taxa de sindicalização nas últimas décadas, reflexo direto da desconexão das entidades com suas bases e da priorização de interesses corporativos em detrimento das demandas dos trabalhadores. Como observa José Pastore, o sindicalismo brasileiro tornou-se dependente do Estado e do imposto sindical, perdendo legitimidade e capacidade de mobilização efetiva.
Além disso, a CLT, frequentemente tratada como conquista civilizatória, nasceu sob inspiração autoritária e corporativista, voltada mais ao controle do que à emancipação dos trabalhadores. Sua rigidez e defasagem são reconhecidas por autores como Arnaldo Sussekind, que aponta a necessidade de atualização para acompanhar as transformações tecnológicas e sociais. Persistir em normas ultrapassadas, como as que ainda distinguem trabalho de homens e mulheres, é ignorar a realidade dinâmica do mercado de trabalho.
A reforma trabalhista de 2017 buscou justamente romper com esse engessamento, fortalecendo a negociação coletiva, ampliando a autonomia das partes e extinguindo o imposto sindical obrigatório. Contudo, enfrentou forte resistência de setores corporativistas interessados na manutenção de privilégios e na tutela estatal sobre o trabalhador. Essa resistência, longe de proteger direitos, perpetua a informalidade e limita a autonomia dos trabalhadores, como criticam Hayek e diversos estudiosos do tema.
A experiência internacional e pesquisas recentes apontam que ambientes regulatórios mais flexíveis, baseados na negociação direta, promovem maior produtividade e satisfação. O futuro das relações de trabalho exige menos tutela estatal e mais liberdade e responsabilidade para trabalhadores e empregadores. Insistir em estruturas ultrapassadas é manter o trabalhador preso ao passado, privado das oportunidades da modernidade.
Ruy Carneiro Giraldes Neto, advogado e servidor público

