O LEITOR ESCREVE
Órgão da catedral
O órgão de tubos da Catedral de Londrina é um personagem da cidade. Testemunha de inúmeros episódios históricos, único bem cultural remanescente da nossa antiga igreja católica, o instrumento já esteve longe de Londrina por muito tempo. Mas, por um esforço de vários setores da sociedade, inclusive do poder público, voltou. E com ele trouxe uma parte da memória, da arte, da religiosidade, do caráter, do cotidiano - trouxe parte de Londrina. O valor histórico-cultural do órgão e o interesse da comunidade em recuperá-lo não podem ser esquecidos. Seria enorme falha relegar esse símbolo ao ostracismo.
O Conselho Municipal de Cultura, através das suas câmaras de Ciências e Artes, acredita que o órgão, personagem vivo, poderá ser um fator importante para a revitalização da música sacra em Londrina. A religiosidade transformada em música gerou inúmeras contribuições para a arte universal - basta lembrar as obras de Johann Sebastian Bach. A Catedral de Londrina, como ponto central de encontro da comunidade, é o lugar ideal para que as futuras gerações tenham acesso a importantes legados da arte e da memória.
A linguagem musical transcende todas as religiões. É preciso fazer que o órgão seja readequado para sua função original - música. É fundamental proteger o que o tempo lhe concedeu - valor histórico. Para isso o Conselho de Cultura entende que se deve garantir, de maneira imediata e oficial, a permanência do órgão na Catedral de Londrina.
- CARMEN BENEDETTI e mais seis assinaturas de conselheiros municipais da Cultura de Londrina
Heróis por aí
Por que razão a maldade, a baixeza, a deslealdade, a violência, a insensibilidade, a infidelidade e o sadismo sobressaem mais que o brio, a honra, a condolência, a boa vontade, a coragem, a honestidade e o sacrifício? Será que estamos tão envolvidos pelas névoas dos vales profundos que não somos capazes de ver o cume das montanhas? A crença crescente de que as boas ações têm sempre atrás de si uma intenção posterior reprovável tem levado ao endeusamento do anti-herói, tornando, assim, os heróis invisíveis ou mesmo inexistentes para nós.
Mas, se olharmos com cuidado, sem preconceito, livremente, veremos que os heróis não são coisas ausentes no nosso dia-a-dia. Quantas pessoas desconhecidas ou conhecidas, quantos amigos e familiares tem aquela espécie de excelência que vale a pena imitar? Muitos são os que possuem certa nobreza, um espírito amplo e aberto, sincero e honesto. Quantos põem de lado seus próprios objetivos em vista de finalidades maiores - algo que exige renúncia, sacrifício, lealdade, fidelidade, compaixão, benevolência e coragem.
Será que estamos tão entorpecidos e cegos que já concluímos, definitivamente, que não mais existem heróis? Agucemos os olhos da nossa alma. Veremos, então, que ainda existem muitos heróis. E eles estão por aí!
- RICARDO SATHLER, Londrina
Reeleição
A reeleição é a recompensa do político e do bom administrador e não é conquistada em palanque ou manobra de bastidor. Ela é fruto de trabalho constante e dedicado, sob os olhos da comunidade e de opositores, que julgam e policiam muitas vezes com vigor exacerbado. Hoje em dia admite-se a reeleição em todos os níveis políticos, do vereador ao presidente da República, e só arriscam a ela aqueles que, pela solidez do seu trabalho, pelos resultados alcançados pela aprovação da comunidade, têm o respaldo de uma popularidade merecida.
Então, por que não reeleger o reitor da Universidade de Londrina? O trabalho realizado será sempre sua plataforma e nossa garantia de boa administração. Democraticamente, um plebiscito vai decidir se haverá possibilidade de reeleição. Nada mais justo. Se aprovada ela nos permitirá, de agora em diante, dar o reconhecimento e a recompensa àqueles que realizarem um bom trabalho à frente da UEL.
- FÉLIX RIBEIRO, professor de Odontologia da UEL
O Pacote mea-culpa
O pacote anunciado pelo governo é um reconhecimento de culpa da equipe econômica e da classe política por não terem tomado medidas adequadas quando o cenário era mais favorável. Em função de interesses subalternos, entre eles o projeto de reeleição, negligenciou-se em promover uma administração mais séria, tecnicamente adequada e politicamente responsável. O resultado foi a crescente vulnerabilidade da economia, incapaz de suportar uma desvalorização nas bolsas de valores. As medidas promovidas são recessivas e inflacionárias. Recessivas porque retiram da população e das empresas, em forma de impostos, juros, aumento de tarifas e combustível, recursos que normalmente oxigenam a economia. Inflacionários porque, na maioria, elevam custos e alteram o preço final dos produtos.
Quem vai saciar o apetite tributário do governo são as empresas e pessoas que se prepararam para uma nova realidade, reduzindo custos, aumentando a produtividade e melhorando a qualidade. A conta, mais uma vez, será paga pela classe média brasileira. Isso sem contar uma provável onda de demissões no setor público, que vai recrudescer o drama do desemprego. Como falta proteção social, vai aumentar a exclusão. Para complicar, o país opta pelo mais duro dos caminhos: desfazer-se de seu patrimônio e buscar capital especulativo para pagar o seu déficit corrente. Não há nada pior do que esta dependência camicase.
O Brasil quis inaugurar um novo tipo de economia, em que a moeda é sustentada apenas por atitudes políticas e pelos discursos. Não deu. Moeda se sustenta em orçamentos equilibrados, reservas saudáveis e crescimento econômico. A especulação foi do governo e não dos investidores. Investidores buscam lucros, onde quer que estejam, e fogem de riscos ao menor sinal de alarme. A regra é mais antiga do que o tempo.
- LAERTE TEIXEIRA DA COSTA, presidente da Central Autônoma de Trabalhadores (São Paulo)
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