O leitor escreve
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 07 de novembro de 1997
O LEITOR ESCREVE
Requiem para a missa
Quando li no jornal que o padre Bernardo quer doar ao Museu Histórico o órgão da Catedral fiquei estarrecida, mas imaginei que a reação dos católicos londrinenses seria imediata e não se verificaria tal absurdo. Domingo, 26 de outubro, assisti à missa da tarde na Catedral e olhando aquele órgão pensei que seria mais apropriado aquele som no lugar do barulho de outros instrumentos musicais. Fiquei lembrando das missas de outrora, com coros Gregorianos, com o perfume do incenso, com o som da língua latina e do órgão. Nosso rito ficou terra-terra (na tentativa de conquistar novos fiéis?) numa grotesca imitação das cerimônias de outras religiões, que não poderiam concorrer com nossa tradição.
O Cerimonial da Igreja Católica Apostólica Romana era misterioso, espiritual e, portanto, místico. Hoje a missa é barulhenta, é impossível interiorizar-se, é impossível comunicar-se espiritualmente. O sermão é, quase sempre, muito longo e árido. Numa tentativa de demover a intenção do padre Bernardo, proponho que, através dos jornais, ele comunique o nome de um banco e o número da conta corrente para as doações que os londrinenses católicos desejem fazer para completar o conserto do órgão. Quem sabe encontraremos um músico que possa tocar o instrumento e compor um requiem para a missa que se foi...
- GRAZIA VERONESI, Londrina
Descaso do governo
É impossível ignorar o fascinante descaso do governador Jaime Lerner, que ganhou a eleição devido ao apoio maciço dos professores do Paraná. Somos uma classe numerosa, praticamente envolvida com os alunos e seus pais. O governador esquece do poder da nossa ação sobre os diversos segmentos da população. Dois dias do mês passado paramos para reflexão e trabalho para nós mesmos, com o intuito de conscientização da nossa realidade, que está se tornando um caos, principalmente a questão salarial, hora atividade e condições para que possamos melhorar o ensino no Estado, pois são os professores que mais ajudam os estudantes a ampliar a capacidade de ver e entender o mundo que nos rodeia.
Nos contracheques que recebemos dia 5 de novembro deparamos com desconto de dois dias de luta e luto, que nos afetou financeiramente hoje e nas futuras promoções a cada dois anos. Professor no Paraná não tem direito a uma falta sequer. Nem no tempo da ditadura, nem pelo AI-5, quando paramos 90 dias de greve, fomos punidos. Mesmo nos governos posteriores, de Álvaro Dias e Roberto Requião, sentamos para negociação e não fomos punidos com o descaso como agora. Propaganda enganosa nos dias de paralisação afirmava, em horário nobre, que o salário médio de um professor com 20 horas semanais era de R$ 650, mas não é de média e estatística que vivemos, e sim do salário.
Por 20 horas semanais em classe e as atividades que desempenho fora da sala de aula (correção de provas, preparação de aulas e correção de trabalhos) recebo o total de R$ 334,81 bruto ou R$ 281,25 líquido. Sou professor concursado na disciplina de Química e possuo pós-graduação em Metodologia de Ensino e Química Analítica. Fizemos a virada resultando na vitória de Lerner pensando em nós e na educação da nossa gente jovem. Se o governador atender às nossas reivindicações ficaremos felizes.
- NELSON AVILA SIMÃO, Londrina
Reino da insanidade
Quem já viu o filme Os deuses devem estar loucos tem uma visão muito próxima do que o contribuinte-otário encontra pela frente ao tentar resolver qualquer tipo de problema junto à Receita Federal, em Curitiba. Trata-se do reino da insanidade. Nesse pequeno mundo à parte existe uma simbologia própria, composta de filas, crachás, senhas, horário, queda do sistema, chefes e chefetes, criada para complicar a vida do contribuinte-gado. As filas começam já no lado de fora do prédio. Depois de muito tempo de espera, ela avança para o interior, onde se subdivide em outras três filas: uma para os que serão atendidos no balcão. Outra para pegar a senha, que tem número limitado. Quem não a conseguir tem de voltar outro dia. Há ainda a fila que parece inspirada em um conto de Gogol, destinada para um crachá que dá acesso ao elevador.
No cipoal armado pela Receita adivinha-se pela face os humores do contribuinte indefeso. Em meio ao mar de gente há os resignados e os raivosos. Não há ninguém alegre ou descontraído. Partamos do óbvio: só se dirige à Receita quem é chamado por ela, quem necessita de documento ou pretende corrigir um erro. Erro dele, contribuinte-bobo, é claro. A Receita nunca erra. Prova disso é a inexistência de um setor de reclamação. E não adianta o contribuinte-palerma teimar que tem razão: é tangido para as três filas citadas.
Nesse processo kafkiano o mais desesperador é saber que não é apenas no andar térreo do prédio que o contribuinte-mosca vai se emaranhar na teia burocrática. Nos andares superiores os chefetes e chefes dos chefetes contam as horas que faltam para ir embora e se divertem em despachar o contribuinte-humilhado de volta às intermináveis filas. Afinal, quem fiscaliza o fiscal?
- RICARDO MACDONALD GHISI, advogado em Curitiba
Pedregulho
Vi um pedregulho no caminho. No caminho vi um pedregulho. De um brilho raro. E de raro tom. Com que orgulho e carinho. Reparo, então, que o pedregulho no caminho era a pedra do Drummond.
- IRENE CRUZ CORRÊA, Londrina
Agradecimento
Agradecemos o apoio que a Folha nos deu na divulgação do espetáculo da bailarina número um da Índia, Sonal Mansingh, que se apresentou em Londrina com grande sucesso. O deslumbrante espetáculo de dança exótica Odissi sensibilizou a audiência e entusiasmou a própria dançarina a retornar ao Brasil e a Londrina.
- EDUARDO JUDAS BARROS, professor da Universidade de Londrina e presidente da Associação Latino-Americana de Estudos Afro-Asiáticos do Brasil
Correção
Em texto publicado na edição de anteontem (5/11), o nome de um dos jogadores de beisebol da equipe pré-júnior da Acel foi publicado incorretamente. O certo é Gabriel McCrate.