O LEITOR ESCREVE
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 14 de março de 2001
Cidadania (1)
Quando aqueles vereadores de Londrina - que votaram contra a terceirização da coleta de lixo - puxaram o tapete de forma civilizada e revelando o alto ideal público, deram demonstração de que são voluntários do mais alto nível junto à nossa municipalidade.
Na época da redução de seus salários, sabedores de que iriam arregaçar as mangas e luvas, já sabiam também o que fazer com o lixo da nossa cidade, por isso não aceitaram essa redução. Deram uma grande demonstração de civismo e que estão prontos a deixar gabinetes e carros, colocando as mãos e unhas na massa, ou melhor, no lixo.
Bem remunerados, desfilando roupas sempre cuidadas, celulares que não param durante as sessões - agora irão, todos os dias - e após terem votado contra a terceirização da coleta de lixo, nos mostrar o quanto são cidadãos inseridos na nossa coletividade. Uns serão motoristas dos veículos sucateados pela administração de Antonio Belinati, outros, utilizando aquelas luvas enormes, farão parte do grande mutirão recolhendo o lixo, ou ainda farão o papel de mecânicos oficiais, tudo em prol da economia.
Será uma excelente oportunidade de revermos nossos candidatos desfilando nas ruas, na nossa frente e que, com raríssimas exceções, só aparecem na época das eleições. Ao contrário do que todos pensam, Nedson conseguiu aliados do mais alto nível. Ou será que os vereadores não deveriam ser os maiores exemplos de cidadania.
Parabéns aos nossos representantes, que num ato de civismo impressionante, na calada das urnas secretas (as mesmas que tentaram utilizar para impedir a cassação do ex-prefeito) se levantaram de forma patriótica, dizendo: Não precisa terceirizar nada, nós dirigiremos os caminhões, recolheremos o lixo das ruas, num mutirão em prol da limpeza e economia na nossa cidade, além de demonstrarmos à coletividade o quão é justo o nosso salário.
Nedson ganhou aliados de peso, claro, que só terão um problema: terão que trocar as roupas, não atenderem tantas ligações em seus celulares, pois arriscarão danificá-los, e aí, perderão até a garantia, pois lixo orgânico ou inorgânico, dejetos imundos, não constam da garantia de nenhum dos aparelhos do mercado.
- LUIZ EDGARD BUENO, escritor, Londrina
Cidadania (2)
Tomo emprestado o título de um livro e Paulo Setúbal, escritor paulista da década de 30 e venho confessar. Com minha idade ainda não atingi o ciclo de uma geração, trinta anos. Olho o mundo que me rodeia e concluo que meus contemporâneos de faixa etária precisam se erguer dessa apatia letárgica que os mantêm em estado de animação suspensa. E agir.
O brasileiro de hoje está perdendo a visão de conjunto do seu município, Estado e país. Confesso que até posso entender, mas não consigo explicar um comportamento sociopolítico fatalista e conformista.
Exerço uma atividade política em um microuniverso que, num corte de perfil, mostra Curitiba, o Paraná e o Brasil. É como se, nessa trilogia, se resumisse o Mundo em que vivemos e pronto. Assim não é, nem deve ser. O País todo é um campo de batalha com tantas frentes quantas possamos imaginar.
Os respingos das guerrilhas federais que caem sobre nossas cabeças, com personagens usando o discutível direito das agressões, da vindita e do oportunismo, não devem nos ferir mas, sim, entristecer. É imperativo que não nos acomodemos, que não percamos a capacidade de nos indignar.
Não é preciso um mandato eletivo para exercer a cidadania. Basta ter uma consciência cidadã. Olhe a sua volta e descobrirá o que fazer no seu trabalho, na sua vizinhança ou na sua comunidade. Não manifeste o desencanto pela classe política. Faça alguma coisa para melhorá-la. Não importa a sua idade, sua escala social, sexo ou profissão. Você precisa participar, manifestando seu inconformismo - e por que não - sua revolta diante dos fatos e das circunstâncias.
Leia, ouça, converse, troque idéias e experiências, manifeste suas opiniões, não se deixe conduzir por demagogos e enganadores de plantão, de vocabulário fácil e prosa suave. O inconformismo está na raiz das mudanças. Não seja fatalista aceitando as coisas como elas vêm e são. Levante-se.
- NEY LEPREVOST, vereador, Curitiba
Poluição
Com relação à carta publicada na Folha, na edição do dia 4, gostaria de informar que o senhor Airton da Fonseca está coberto de razão, em tudo que citou na sua correspondência publicada na referida edição.
A empresa Big Frango encontra-se instalado na região central de Arapongas. Pois, muito próximo a ela encontram-se: colégios, igrejas, hospital, biblioteca municipal, Teatro Vianinha, comércios e outros.
A referida empresa funciona 24 horas por dia, incluindo os finais de semana. Seus equipamentos antigos e obsoletos provocam sérios transtornos. Seus potentes motores emitem muito barulho que após às 22 horas, horário destinado ao descanso de todos, não deveria existir.
Também o produto utilizado na caldeira emite um terrível odor (cheiro de graxa) de cor escura. A ração fabricada pela empresa navega na atmosfera dia e noite, sendo este o oxigênio que inspiramos dia e noite. Como se sabe, isto traz sérios problemas à saúde humana e ao meio ambiente, que deveria ser respeitado por todos (como fica a qualidade de vida?).
Será que a prefeitura autorizou a empresa a funcionar 24 horas por dia? E a Secretaria de Saúde, o que está fazendo? O IAP não tem que fiscalizar tais acontecimentos e tomar medidas cabíveis? Para uma empresa funcionar, é necessário alvará/licença, será que os departamentos competentes fazem uma vistoria in loco para emiti-los?
- SÉRGIO CASTELANI, Arapongas
Sancho Pança
O artigo publicado na Folha no dia 13, Moinhos de vento da promotora Luciana Ribeiro Lepri Moreira, é um oásis no deserto Brasil.
O termo Eco-design, tema do artigo, traz para o mundo moderno a velha prática do conversando é que a gente se entende. No entanto, nossas administrações municipais, os órgãos governamentais e a comunidade não estão preparadas para conversar de fato. O sistema atual acaba se impondo e o deserto Brasil crescendo. Aliado a tecnologias como o Eco-design, que dá uma série de dicas de como resolver os nossos conflitos ambientais, devemos criar mecanismos que numa discussão, como por exemplo, sobre o lixo, motive e dê condições desde a criança, a dona de casa, até ao catador a participar e dar a sua necessária e valiosa contribuição.
O político passageiro na comunidade, antes de decidir o nosso rumo, deveria obrigatoriamente esclarecer e ouvir a população. Temos que quebrar os vícios de brincar de democracia, onde a população é tratada como um bando de carneiros diante de fatos já decididos pela direção. A população se isola na sua impotência, sendo usada na sua ignorância para justificar as decisões políticas. Temos que saber mais a fundo o que está acontecendo e não só ficar nas reclamações pessoais ou defendendo palpites de terceiros e quartos. Vamos estar descobrindo e aprendendo mecanismos, até mais eficientes na nossa realidade, do que o Eco-design. Dom Quixote precisa do auxílio do Sancho Pança para combater os moinhos de vento.
- DANIEL STEIDLE, agricultor e ambientalista, Rolândia
- As cartas devem ser datilografadas e assinadas e vir acompanhadas da fotocópia de documento de identidade, endereço e telefone para contato e profissão/ocupação do remetente. O jornal poderá resumi-las conforme disponibilidade de espaço. Correspondência via Internet deve conter: nome completo, cidade de origem, telefone, documento de identidade e endereço eletrônico e profissão/ocupação. E-mail da Folha de Londrina/Folha do Paraná: [email protected]
