Caça às bruxas
Como produtores rurais acostumados a extrair do trabalho o nosso sustento, achamos inadmissível qualquer tipo de corrupção. Achamos louvável as auditorias que estão sendo feitas nos órgãos públicos e esperamos que os culpados por desvios de dinheiro sejam punidos e devolvam o que usurparam da sociedade.
Porém, é com ressalvas que vejo esta ‘‘caça às bruxas’’, onde o dedo apontado a um suspeito já o sentencia como culpado. Não podemos nos comportar de forma inconsequente, condenando por antecipação. Quem não se lembra do ex-ministro Alceni Guerra e o caso das bicicletas. Nada foi provado. Mas a humilhação sofrida por ele e sua família é uma marca que eles vão carregar pelo resto da vida.
E não apenas os políticos podem ser envolvidos em uma condenação precipitada. É só nos recordamos do caso da Escola Base, em São Paulo, onde proprietários (inocentes, é bom frisar) tiveram suas vidas destruídas ao serem acusados de aliciamento de menores. Assistimos a atuação dos Procuradores da República, que se por um lado atuam com a firmeza necessária nas investigações, por outro também incorrem no erro de execrar publicamente os suspeitos de irregularidades, quando nada ainda se provou.
Todo cuidado é pouco. Estou propondo uma reflexão acerca do tratamento a ser dado quando ainda se está na fase da apuração dos fatos. Todo mundo tem pelo menos uma vaga idéia do que seria ter o nome, de um dia para outro, estampado nas páginas dos jornais como suspeito de roubo. Não há provas que o inocentem mais tarde, capazes de tirar-lhes a pecha de ladrão. E nem os próprios jornalistas estão livres disto, já que tempos atrás alguns nomes da imprensa figuraram em uma certa lista.
Cabe a auditores, procuradores, promotores, delegados conduzirem suas investigações em sigilo e só apresentarem à imprensa os resultados. É o correto. E cabe à imprensa, o discernimento e ética para não contribuir para a execração pública de pessoas cuja culpabilidade ainda é apenas uma suspeita.
- WALTER MARINHO FALCÃO, diretor administrativo financeiro da Sociedade Rural do Paraná
Horário do comércio
Londrina deixará de ser uma cidade pólo, única e exclusivamente pelo populismo político que está tomando conta dos seus representantes. Em maio de 2000, o Sindicato Patronal, em razão do mandado de segurança 384/98, conseguiu que o comércio de Londrina abrisse nos mesmos horários das lojas de departamentos, ou seja, das 8h às 19h, de segunda a sexta-feira, e das 9h às 18h, aos sábados. A sentença era clara, e dizia: ‘‘Abre quem quer’’.
Durante quase um ano, a cidade pode experimentar o progresso, abrindo suas lojas e vendendo mais. Neste período, o vereador Sidney de Souza, o presidente do Sindicato dos Empregados de Londrina, José Lima do Nascimento, e a própria prefeitura lutaram com todas as forças para impedir a abertura do comércio, desrespeitando a sentença judicial.
Em uma sexta-feira à noite, a prefeitura de Londrina, juntamente com seus 21 vereadores, aprovou um projeto que impedia a abertura do comércio aos sábados à tarde. Com isso, nós comerciantes pequenos, tivemos vetado o direito de competir de igual para igual com os comerciantes dos bairros, supermercados e shoppings, já que todos estes vêm abrindo aos finais de semana. Somos obrigados a fechar nossas portas, sob pressão do vereador Sidney de Souza que, conforme nota publicada pelos jornais no dia 21 de fevereiro de 2001, pressionou o prefeito, quase que arbitrariamente, para que o mesmo tomasse uma atitude.
O que nos deixa indignados é que este mesmo vereador passou o ano de 2000 inteiro desrespeitando e descumprindo a sentença 384/98. Mas quando esta mesma sentença foi reformada pelo Tribunal de Curitiba, obrigando os comerciantes a retornarem ao antigo horário, o digníssimo vereador fez de tudo para que ela fosse cumprida imediatamente.
Parabenizamos a Delegacia do Trabalho que manteve seu padrão honroso de fiscalização, como sempre o faz, não se intimidando com a pressão de alguns vereadores e do Sindicato dos Empregados.
- SINÉZIO SCUDELLER, presidente do Sindicato Patronal do Comércio Varejista de Londrina e Região, Londrina
Congresso Nacional
O Congresso Nacional é hoje palco de luta de coronéis do Nordeste à custa do dinheiro do contribuinte. Onde estão os projetos aprovados? É preciso rever a questão da representatividade parlamentar. Desde o tempo da ditadura militar, o sul está com menos deputados e senadores do que manda a lei. Onde estão os nossos que não dizem nada aí em Brasília? Que vergonha, o orçamento do PR é 1,5 bi, de Brasília 5,5 bi! Não temos ningúem por nós para brigar?
- LOTAR KAESTNER, Curitiba
Participação popular
A pobreza tem acompanhado o homem desde seu surgimento e a afloração extraordinária de riquezas em alguns pontos da Terra nos últimos séculos é um fenômeno estranho, carente de explicação. Há uma hipótese básica para explicar o sucesso econômico: a teoria de Alain Peyrefitte, na qual o desenvolvimento nasce de certas condições culturais e psicológicas que favorecem a criatividade econômica, a livre negociação e a fidelidade aos contratos.
A teoria de Peyrefitte não é absolutamente segura, mas é a que melhor tem resistido às objeções. Se no Brasil não querem prestar atenção nela é por um motivo muito simples: ela afirma a necessidade imprescindível de uma atmosfera geral de confiança, em que os controles jurídico e policial cedam lugar a mecanismos unicamente culturais de incentivo à livre iniciativa popular.
No Brasil, isso é impraticável porque nossos políticos e intelectuais estão empenhados em aumentar o próprio poder induzindo o povo a aceitar mais leis, mais controle, mais burocracia. Eles chamam isso de ‘‘ética’’, de ‘‘luta contra a miséria’’. Eu chamo de liquidação maldosa e egoísta de uma oportunidade de sucesso.
- HEYDI COSTA, estudante, Londrina
FHC
Recentemente, o presidente Fernando Henrique disse que ficou com asco da corrupção. E a tortura a que os nossos jovens são submetidos na Febem? As filas quilométricas nos postos do INSS, nos postos de saúde, nos guichês dos bancos e dos Correios, na Receita Federal? Milhões de crianças morrendo antes do primeiro aniversário? Os medicamentos de uso contínuo aumentando 300%? O real valendo menos de um dólar? O lucro da Petrobras 474% maior à custa do aumento no preço da gasolina? Cem mil condenados soltos infernizando e colocando em risco a vida da população? O salário mínimo matando de fome? As florestas queimando? E os milhões de desempregados definitivos? Tudo isso não dá asco?
- PAOLO MARANCA, pintor, São Paulo
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