Sinais de fumaça
A declaração de Fernando Henrique Cardoso de que o Brasil da atualidade é um país que vai de ‘‘mal a menos mal’’ está cercada, não se sabe se propositadamente ou não, de uma leitura econômica e política incorreta. Ao fazer a declaração o presidente reconhece que a atuação dele e de sua equipe era e continua ruim. Pois ir de mal a menos mal significa ter consciência de que as coisas já não eram boas anteriormente e ainda não melhoraram.
É impossível aceitar que o Planalto faça leitura de conjuntura incorreta, pois quase todo dia surgem publicações de institutos e universidades revelando a situação do país. Uma vez abocanhada a tacanhez da leitura da conjuntura só é possível entender que o governo direciona seus esforços para alcançar um único objetivo por ele escolhido em detrimento dos demais – a busca do cumprimento das metas estabelecidas pelo FMI. Tudo o mais poderá ser feito a partir das sobras (quando houver) que os compromissos externos deixarem. A prova disso são os dados divulgados pela imprensa nos últimos dias sobre o fechamento, até com folga, das metas do Brasil, junto ao FMI no primeiro trimestre de 2000.
Os recentes acontecimentos que ocasionaram confrontos entre a polícia e alguns movimentos, e entre manifestantes e pessoas ligadas ao governo, devem servir de alerta. É bem verdade que, numericamente, as manifestações podem ser consideradas pequenas se forem observadas as condições deploráveis em que vive a maioria da população. Porém, ainda é tempo de lembrar que a grande explosão de um vulcão é precedida de pequenos tremores e sinais de fumaça.
- PADRE ROQUE ZIMMERMANN, deputado federal pelo PT-PR
Baderna
O Sindicato do Comércio Varejista de Londrina e Região, inconformado com a arruaça no Calçadão, dia 27, esclarece que não se tratou de manifesto democrático e ordeiro, como declarou o Sindicato dos Empregados. Os manifestantes chutaram portas, ofenderam verbalmente proprietários de lojas. José Lima do Nascimento (presidente do Sindicato dos Empregados), o apresentador Barbosa Neto e o vereador Sydnei de Souza – que circularam juntos nessa arruaça do dia 27, esquecem de utilizar, com igual empenho ‘‘democrático’’ em favor dos funcionários que trabalham todos os domingos nos shoppings da cidade. Eles também têm família e religião – e esquecem de tantos outros que trabalham nos sábados, domingos e feriados, durante as feiras.
Londrina se desenvolve com dois pesos e duas medidas. Caminha em direção oposta ao crescimento, perdendo o bonde do progresso e distanciando-se cada vez mais dos grandes centros, que trabalham com liberdade de horário. Infelizmente, aqueles que deveriam prezar pelo pleno emprego estão limitando as chances de aumento de postos de trabalho. As lojas que trabalham neste novo horário (Americanas, Riachuelo e Pernambucanas) aumentaram em 20% o número de funcionários. Se não houvesse aumento de vendas elas não abririam, tampouco os shoppings. Essas empresas respeitam rigorosamente a jornada de 44 horas semanais, o que prova que o novo horário não significa sobrecarga de trabalho, mas sim oportunidade de emprego e aumento de vendas.
- SINÉZIO SCUDELER, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Londrina e Região
Greve
Governador Jaime Lerner: o motivo desta carta é pedir o fim da greve dos professores, que está prejudicando os estudantes paranaenses. Creio que o senhor como pai deve pensar nisso: se seu filho estivesse sem aula por causa da greve, o senhor não iria gostar. Esse é o sentimento dos pais que colocam os filhos em escolas públicas contando com o serviço e se desapontam, não com o nível de ensino, mas sim, com as greves que diminuem o rendimento de seus filhos na escola.
Um país como o nosso, onde o Hino Nacional diz que ele é um gigante, deve ter a atenção voltada para a educação. O professor como educador deve ser tratado com respeito, para que possa ajudar este País a se tornar gigante também no conhecimento. Um empregado com menos estudo, muitas vezes, ganha mais que um professor que estudou tanto tempo. Gostaria que o senhor pensasse com carinho sobre tudo isso. Não gosto de ficar sem aula. Espero que esta situação seja resolvida, quero voltar para a escola.
- ISABELLE CRISTINA SANTOS, 10 anos, Londrina
Locutores
Todos sabemos que o Brasil, por causa da sua extensão territorial, apresenta muitas características regionais. Dentre essas está a maneira de falar, de pronunciar o português. É agradável ouvir a naturalidade do som que flui das cordas vocais do nordestino, do carioca, do gaúcho etc. Por outro lado, é desagradável e até constrangedor tentar escutar através dos meios de comunicação ou numa interlocução, pessoas da nossa região tentando imitar, por exemplo, sotaque carioca. Alguns profissionais que trabalham no rádio e na TV, deveriam refletir sobre o assunto. Ao agir dessa forma, tais profissionais se tornam antipáticos e produzem ruído na comunicação. Sejamos emissores autênticos de idéias e emoções. Creio que se expressar com naturalidade não é caipirismo. Ser caipira é imitar, é dar à voz um tom afetado (desvinculado) ao qual as próprias cordas vocais reagem e nossos tímpanos também.
- OSEAS PEÇANHA DO NASCIMENTO, Londrina
Agropecuária
Prezado senador Osmar Dias: há homens que passam a vida à procura do abstrato, outros a busca do concreto com resultados imediatos e objetivos. No imenso rol de suas realizações um de seus feitos que mais marcaram pela objetividade e resultados imediatos, foram os cordões de contornos e a conservação do solo implantados no Paraná. Agora a emenda de sua autoria promulgada pelo Congresso, que cria a isonomia entre trabalhadores rurais e urbanos que a partir da promulgação terão dois anos de prazo para questionar direitos trabalhistas sobre os últimos cinco anos, constitui grande incentivo à agropecuária. Outras distorções também merecem reformas, em face das chuvas, exagero de dias santificados somente guardado por trabalhadores rurais, visitas médicas, descansos sem qualquer fiscalização e outras anomalias que ocorrem com frequência na zona rural.
Sabemos que este brilhante trabalho não poderá parar por aqui, pois entendemos que se faz necessário algumas outras reformas como as distorções do Estatuto da Terra que já é arcaico e desatualizado, antes que algum aventureiro jejuno se arvore como seu reformador, tendo em vista, que um parlamentar preparado como Vossa Excelência poderia propor a reforma e ser seu relator. Saiba que somos contrários à afirmação equivocada do presidente da Fetaep, Antonio Zarontonelo, argumentando que quem criou o desemprego no campo foi a mecanização e não a legislação. Isto lamentavelmente vem demonstrar a pouca intimidade e o superficial conhecimento de causa que o nobre presidente tem para com a classe ruralista, embora seja ele um dos ‘‘representantes’’ da classe produtora deste País.
Mas diante de seu profundo conhecimento sobre esta questão que assola as classes dos empregadores e também dos empregados rurais, preveleceu o justo, que é o resultado da promulgação da emenda constitucional pelo Congresso, de sua autoria. Parabéns! Vossa Excelência é um parlamentar de ação, de resultados imediatos e objetivos, e o débito da agropecuária a seu favor é incomensurável.
- OCTÁVIO CESÁRIO PEREIRA NETO, presidente do Grupo Promotor do Desenvolvimento Regional (GPDR), Londrina
- As cartas devem ser datilografadas e assinadas e vir acompanhadas da fotocópia de documento de indentidade, endereço e telefone para contato e profissão/ocupação do remetente. O jornal poderá resumi-las conforme disponibilidade de espaço. Correspondência via Internet deve conter: nome completo, cidade de origem, telefone, documento de identidade e endereço eletrônico e profissão/ocupação. E-mail da Folha de Londrina/Folha do Paraná: [email protected]