O Interior sempre em segundo plano
Mesmo após décadas, os investimentos não têm sido proporcionais à importância dessas regiões para o desenvolvimento do estado
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025
Mesmo após décadas, os investimentos não têm sido proporcionais à importância dessas regiões para o desenvolvimento do estado
Ary Sudan

Desde que passei a compreender melhor a política, percebi que, independentemente de quem assume o cargo de governador, a visão estratégica continua a mesma: a região metropolitana da capital sempre recebe mais atenção.
Como dizia um amigo: "Se sobrar, a gente leva para o interior." O Norte do Paraná é um exemplo claro dessa realidade. Não desmereço Curitiba, cidade que respeito, mas é inegável que muitas das suas riquezas surgiram com o ciclo do café, quando a economia paranaense estava em seu auge. O problema é que a região que historicamente contribuiu para o estado e a capital ainda enfrenta grandes desafios, mesmo 50 anos após o fim da era do café. As estradas que conectam o Norte do Paraná a Curitiba e São Paulo — centros comerciais e políticos da região — continuam em péssimas condições, evidenciando a negligência do poder público.
Mesmo após décadas, os investimentos não têm sido proporcionais à importância dessas regiões para o desenvolvimento do estado. Esse cenário me faz lembrar das grandes cidades europeias, como Lisboa, Paris e Londres. Nessas metrópoles, encontramos grandes obras como palácios, museus, universidades, igrejas e aeroportos. Muitas dessas riquezas, no entanto, foram construídas com recursos das colônias, que, em sua maioria, permaneceram na pobreza.
A história se repete em muitos aspectos: enquanto uma região se beneficia do progresso, outra, que contribuiu para esse desenvolvimento, ainda luta pelo básico. Esse fenômeno é visível em todo o Brasil. No Paraná, como em outros estados, a disparidade entre as condições da capital e do interior é evidente. Isso revela a falta de uma visão estratégica de longo prazo e de compromisso com a equidade. Não é responsabilidade apenas do governador, mas de todos os que o assessoram, muitos dos quais vêm do interior, mas esquecem suas origens ao chegarem à capital.
Para uma transformação genuína, é essencial que a população se conscientize e eleja políticos comprometidos com o desenvolvimento de todas as regiões do estado, e não apenas com a capital. É compreensível que a força política da região metropolitana seja maior do que a das regiões do interior, que muitas vezes funcionam de forma isolada e fragmentada. O interior deveria unir forças sempre que possível, colaborando em vez de competindo. Infelizmente, essa união ainda é um sonho distante.
A capital já se beneficia da concentração das instituições públicas estaduais, o que representa uma enorme vantagem comparativa. Cada secretaria é mais que uma grande indústria, sem falar nas entidades sediadas em Curitiba, como federações da indústria, do comércio, da agricultura, dascooperativas, entre outras. Tudo isso proporciona uma vantagem significativa sobre o interior. Por isso, não faz sentido continuar privilegiando a capital em detrimento do interior. Os investimentos devem ser feitos na capital, mas sem prejudicar o interior.
O exemplo de Londrina, que não pode contar com uma pista de aeroporto maior ou até mesmo uma pista de taxiway, reflete claramente esse descaso. Esse tipo de infraestrutura, que em outras localidades seria considerado essencial, é tratado como luxo e inacessível para o interior. Isso evidencia a falta de uma visão integrada e equilibrada, onde todas as regiões deveriam ser tratadas com justiça, oferecendo as mesmas oportunidades e investimentos.
A verdadeira mudança só ocorrerá quando a política se voltar para todos, e não apenas para aqueles que já têm privilégios. O desenvolvimento de um estado forte e equilibrado depende do bem-estar de todos os seus cidadãos. Para isso, é crucial que as vozes do interior sejam ouvidas e respeitadas, com a mesma atenção e dedicação que são dadas à capital. O progresso não pode ser privilégio de poucos; deve ser uma conquista compartilhada por todos.
Ary Sudan, cidadão honorário de Londrina

