Renzo Sansoni
O Brasil precisa muito de bons e competentes médicos. O que não é lá nenhuma novidade. Por consequência, os charlatães estão dispensados e livres para infestar outra freguesia. Observe com que gostosura (ou impostura?) e com que sorriso cínico os repórteres da grande imprensa (Rede Globo na dianteira) exibem-se quando da divulgação de erros médicos. Fazem a notícia com a mesma alegria dos nazistas quando entregavam um judeu à Gestapo. Anunciam a coisa numa alegria incontida, mesclando delação e sarcasmo, como se a matéria fosse um avião caindo ou uma mulher flagrada nos braços de um padre franciscano.
Não há tatu e nem chefia de divulgação que faça com que a grande imprensa toque no assunto com seriedade, humildade e objetividade. E não se vê nenhuma preocupação em buscar, na essência, entender o problema para melhor apontar os caminhos, as soluções, as alternativas. Querem porque querem impor a cultura da punição e do enlameamento da dignidade profissional. É muito rasteiro e oco achar que, por sensacionalismo para vender notícia, está-se ajudando a sociedade, o médico, o doente ou a justiça. Pelo contrário, da forma que a coisa chega ao grande público, o mérito da imprensa/TV é confundir, sacanear e destruir grande oportunidade de correção de rumo.
Mesmo porque, as estatísticas provam, com números honestos, que erro médico é, ainda, raridade na praça brasileira; tende aumentar e lesar, se não for contido. O que existe são grandes interesses envolvidos, e mancomunados, na busca do dinheiro fácil, nas costas do esculápio. Na verdade, o que se consegue, com tais hipocrisias e falácias, é afastar os doentes dos bons médicos e/ou hospitais e jogá-los nas garras dos charlatães e mercenários, ávidos de notoriedade, plenos de promessas vãs e sem nenhum compromisso com a ciência séria e resolutiva.
Em outras palavras, o que constatamos é que os grandes canais de comunicação estão prejudicando muito, como sempre, os mais pobres, os mais desassistidos e desinformados. Já se viu a grande imprensa convocar, em horário nobre, as verdadeiras autoridades médicas para a discussão serena e límpida da problemática na saúde verde-amarela? A boca no trombone, com as veias ingurgitadas da imprensa sensacionalista, está levando o exército do bom-senso em marcha à ré, criando dificuldades e pânico, prenunciando a perda da guerra para a safadagem, com enriquecimento ilícito de setores interessados na fritura da medicina brasileira. E isto é muito sério e desalentador. E precisa ser denunciado.
Tocamos, aqui, na primeira grande ferida do caos que virou a assistência médica no Brasil: o excesso de faculdades de Medicina, colocando milhares de médicos no mercado, sem o mínimo preparo e sem a mínima necessidade. As outras aberrações serão posteriormente discutidas. A certeza que se tem é que faculdade, no Brasil, é curral/paróquia eleitoral de soberbos espertinhos tupiniquins. Nem as autoridades federais do setor sabem quantas faculdades e de quantos médicos o País necessita.
Sem muita adivinhação, dá para colocar, também sem bravata, que metade das faculdades e das vagas deveria ser extinguida, sem nenhum prejuízo quantitativo. E com muito ganho qualitativo. Todo país democrático, e comprometido com o bem-estar social, precisa de médicos bem formados, éticos e competentes. E é isto que as faculdades não estão conseguindo fazer. Está passando da hora de nossos poderes maiores interessarem pelo assunto e ajudar a Nação na formação sólida de profissionais e colocando mais recursos para minorar o sofrimento do povo. Antes de falar em erro médico é urgente que se coloquem as faculdades no tribunal e, também, seus fundadores e/ou exploradores.