O desafio de reduzir os casos de feminicídios no Paraná
O Estado enfrentou um aumento de casos desse tipo de crime entre 2023 e 2024 na ordem de 7,5%
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 08 de janeiro de 2025
O Estado enfrentou um aumento de casos desse tipo de crime entre 2023 e 2024 na ordem de 7,5%
Folha de Londrina
O Paraná tem uma questão bastante importante para lidar em 2025: como reduzir o crescimento no número de mulheres e meninas mortas de maneira violenta e intencional. Isso porque o Estado enfrentou um aumento de casos desse tipo de crime entre 2023 e 2024 na ordem de 7,5%.
Segundo especialistas ouvidos pela FOLHA, esse aumento nos casos de feminicídio nas cidades paranaenses, nos últimos dois anos, podem apontar tanto o crescimento da violência de gênero quanto o maior entendimento das autoridades em classificar crimes do tipo.
Dados do Lesfem (Laboratório de Estudos de Feminicídio) mostram que o número de feminicídios no Paraná chegaram a 142 no ano passado e, em 2023, foram 132.
Silvana Mariano, coordenadora do Lesfem, explica que, até outubro, o feminicídio era considerado uma qualificadora do crime de homicídio. “O aumento observado no Paraná pode estar associado ao ganho, da parte dessas autoridades, de uma consciência sobre a violência de gênero, o que, diante da morte de uma mulher, resultaria em maior aplicação do protocolo para investigar, processar e punir com perspectiva de gênero”, explica.
As tentativas de feminicídio também cresceram, já que foram 62 casos em 2023, ante 195 em 2024, o que representa um aumento de 214%. Os dados, segundo Mariano, ainda são preliminares e passarão por revisões nos próximos dias.
Em Londrina, foram registrados sete casos no ano, sendo quatro consumados e três tentados. Se comparado ao ano anterior, Londrina registrou uma redução nesse tipo de crime: em 2023, foram 12 casos, sendo sete consumados e cinco tentados.
O Lesfem chama atenção para o fato de que os períodos de festividade e de férias são mais perigosos para as mulheres, pois dos 142 feminicídios consumados em 2024, 19 foram registrados em janeiro.
“Isso acontece porque ocorre uma intensificação do contato entre as pessoas e, muitas vezes, combinado com o uso de substâncias como álcool e outras drogas, lícitas ou ilícitas, predispõem mais os homens à violência”, afirma.
Lembrando que a maior parte dessas mortes acontece no contexto doméstico e familiar, sendo que na maioria das vezes os familiares da vítima também convivem com o agressor.
A coordenadora reforça a importância de promover a igualdade entre homens e mulheres nas mais diversas esferas e da transformação para que meninos e meninas sejam ensinados que são iguais em dignidade humana e em deveres e responsabilidades sociais.
Uma das apostas do governo paranaense em reduzir o número de feminicídios é o Programa Mulher Segura, coordenado pela Sesp (Secretaria da Segurança Pública do Paraná). A pasta coloca que tem se empenhado em combater esses crimes por meio da educação e conscientização, com o objetivo de transformar pensamentos e atitudes.
O programa começou neste ano nas 20 cidades paranaenses com maior incidência de feminicídios e, segundo a Sesp, o número de ocorrências caiu 38% nessas localidades. No período foram realizadas 420 palestras, que impactaram, conforme a pasta, mais de 51 mil homens e mulheres.
O trabalho de conscientização e educação é importante porque, ao contrário dos homicídios em geral, que têm as mais variadas causas, os feminicídios têm sempre a mesmo essência: a desigualdade de gênero, baseado em uma convicção de que as mulheres são subalternas aos homens e são "propriedades" de seus parceiros e maridos.
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