Quem caiu na folia ou viu a festa pela televisão pode não ter percebido, mas se prestasse um pouco mais de atenção concluiria que no carnaval o Brasil consegue (em grande parte) se despir do fenômeno da polarização.

De Norte a Sul, onde teve bloquinhos, blocões e escolas sambando nas ruas havia muito mais união do que divisão de opiniões.

É no carnaval que as pessoas de diferentes opiniões de juntam nas ruas sem querer saber se o cidadão que se diverte ao lado é lulista ou bolsonarista. Por trás das máscaras de Damaris, Dilma, Lula e Moro todos são iguais – pelo menos até a Quarta-feira de Cinzas.

No Brasil sem polarização há mais consenso do que controvérsia. No Galo da Madrugada, no Oludum, na Mangueira, na Gaviões da Fiel, no Zombie Walk, na multidão que seguiu o Bafo Quente em Londrina e em todos os blocos e clubes do País certamente havia mais concordância do que polêmica. É claro que brigas pontuais acontecem motivadas por diferentes motivos.

Porém, o que mais se viu são opiniões e visões do mundo convivendo lado a lado. A maioria com os mesmos desejos de paz, de emprego, educação para os filhos e descontentamento com a corrupção.

Muito provavelmente alguém que “brincou” ao seu lado já sentiu na pele os efeitos de preconceitos, de insegurança, violência e humilhação.

Nesta quarta-feira, é certo que a polarização voltará a mostrar a cara, trazida principalmente pela política, mais especificamente pelos extremistas de direita e de esquerda.

O que poderia ser feito para mudar esse cenário de polarização? Há algumas iniciativas acontecendo e a FOLHA mostra alguns exemplos nesta edição (26).

Para sair das ‘bolhas’, grupos segmentados pelas redes sociais, especialistas e deputados argumentam que é preciso ouvir o outro lado. O debate político faz parte da história, mas vive momento perigoso com discurso de ódio e violência

Uma das iniciativas é o projeto Fura Bolha, da Fundação Fernando Henrique Cardoso e do Centro Edestein. Na primeira rodada do projeto, realizado no ano passado, debates reuniram pessoas da política institucional que têm pensamentos antagônicos: Janaína Paschoal e Marcelo Freixo, Kim Kataguiri e Sâmia Bonfim, Joice Hasselman e Randolfe Rodrigues, dentre outros nomes.

E os temas escolhidos são os que hoje dividem as opiniões: saúde, educação, governo Bolsonaro e a relação do presidente da República com o Congresso.

Para unir o povo, não é preciso que o carnaval dure o ano todo. É preciso que as pessoas “furem” a bolha em que vivem e conheçam e respeitem opiniões antagônicas. O carnaval está aí para provar que essa convivência é possível.

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