Quem tem 40 anos ou mais certamente se lembra de um fantasma que assolava a economia brasileira nos anos 1980 e começo dos anos 1990: a inflação. Em 1989, a taxa anual foi de quase 2.000%. Foram cinco planos econômicos que fracassaram para conter a hiperinflação no período. A criação do Plano Real, em 1994, acalmou os ânimos, mas o tão falado dragão da economia torna a mostrar as garras novamente.

O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) acelerou 1,23% em fevereiro, apontaram os dados divulgados nesta terça-feira (25) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O resultado veio após variação de 0,11% em janeiro. A taxa de 1,23% é a maior para meses de fevereiro desde 2016, quando o avanço havia sido de 1,42%.

O índice, contudo, ficou abaixo do esperado pelo mercado financeiro. A mediana das projeções de analistas estava em 1,36%, segundo pesquisa da agência Bloomberg.

Com os dados de fevereiro, o IPCA-15 passou a acumular alta de 4,96% em 12 meses. É um patamar acima do teto da meta de inflação para o IPCA em 2025 (4,5%). Nesse recorte, a variação era justamente de 4,5% até janeiro.

No mês passado, o IPCA-15 teve alívio com o desconto temporário nas contas de luz em razão do bônus da Itaipu. A medida entrou em vigor em janeiro devido a um atraso na conclusão do processo. Neste mês, a maior pressão veio justamente da alta de 16,33% na conta de luz.

Aproveitando-se do bônus da energia, o governo federal chegou a propagandear uma inflação baixa em janeiro, a menor para o mês desde a criação do Plano Real. Agora, sem o bônus, fica clara a artificialidade do índice de janeiro. E o cenário para os próximos meses é de preocupação.

A redução da Selic, taxa oficial de juros do país, fica cada vez mais distante. Apesar de o índice ter subido menos do que o esperado, o quadro ainda é ruim em termos qualitativos, com desafios para a condução da política monetária do BC (Banco Central). A expectativa do mercado financeiro é que o Copom eleve a Selic a 15%, patamar que deve permanecer até o fim do ano.

Com várias frentes a se atacar, a prioridade do governo federal na guerra contra a disparada de preços é conter a alta dos alimentos. A pauta é cara ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, sem um plano estratégico efetivo, viu sua popularidade despencar nas últimas avaliações de seu governo.

O combate à inflação deve ser uma prioridade para todas as correntes políticas e setores da economia. Nessa hora, o diálogo e a união de esforços são essenciais.


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