O amor por Curitiba é a nossa cultura
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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2001
Triste é a cidade ou nação que sofre dos males da indigência cultural. Nelas o homem não tem identidade, não se conhece como indivíduo, não é cidadão. Tolo é aquele que acredita que com apenas códigos de direitos e deveres, ou com severas leis, é que se vai fundamentar a cidadania. Ela, a cidadania, é uma conquista da cultura de um povo, construída na tradição, no respeito pelos esforços e trabalhos dos antepassados, na convivência do contemporâneo com o histórico.
Caso alguém me perguntasse qual seria o aspecto mais forte da cultura do curitibano, eu não teria dúvida em responder que é o amor pela sua cidade. Aqui, amor e cultura se confundem com a próprio espaço urbano: nas gentes e suas características, nos prédios, parques, jardins, avenidas, ou até mesmo numa simples e acanhada rua.
Curitiba sempre se notabilizou pela capacidade de produzir cultura. Poucas cidades brasileiras possuem tantos espaços culturais voltados exclusivamente para o desenvolvimento intelectual dos seus cidadãos. Podemos, portanto, afirmar com toda segurança que aqui se fomenta e se faz cultura. Entretanto e não podemos perder esta perspectiva como tudo que se realiza em Curitiba, o planejamento é fundamental para o nosso sucesso.
Vários são os questionamentos sobre o papel do Poder Público no mundo das artes. Particularmente, creio que nossa ação deva estar fixada no incentivo, no planejamento e na criação das condições necessárias e suficientes para que as artes se desenvolvam.
A atuação do Poder Público fora dessas esferas é temerária. A arte não pode ser um artífice para engendrar ideologias, principalmente de governos. Já tivemos tristes exemplos dessa manipulação das artes na história da humanidade e podemos afirmar que, embora os regimes autoritários dela tenham feito uso, pouco ou nada sobrou da arte que se pretendia como tal. Ao contrário, tivemos apenas o respaldo da barbárie e a distorção dos fundamentos éticos do homem.
Sempre foi uma das tarefas essenciais da arte suscitar determinada indagação num tempo ainda não maduro para que se recebesse plena resposta pregava Benjamin. Não querendo dar uma definição rasa sobre o que viria a ser arte, posto que este assunto é de discussão interminável, penso que a arte está sempre um passo à frente do pensamento hodierno. Ela é negação do presente ao mesmo tempo que cria cenários de uma realidade do porvir. E aqui me faço favorável ao pensamento de André Breton, que afirmava que a obra de arte só tem valor na medida que agita os reflexos do futuro.
Queremos uma cidade para o futuro. Porém, como pensar uma cidade sem esta antecipação inerente à arte? Precisamos pois, e muito, desta arte de vanguarda, da arte que prevê, que antecede e que cria. Entretanto, há de se observar que o caráter desta arte não pode ser particular. A arte tem que ser compartilhada pelo maior número de pessoas, tem que ser democrática.
Além dos princípios já expostos, nossa ação se pauta pela democratização das manifestações artísticas. Temos que envolver o curitibano nessa possibilidade criadora da arte. Deixo aqui bem claro que nossa ação não visa transformar a arte num ato ordinário, piegas e desprovido de fundamentos culturais. Queremos a arte de qualidade para todos os curitibanos. Queremos e devemos garantir o acesso de todos nossos cidadãos ao melhor que se possa produzir e mostrar.
O poder municipal, aqui em Curitiba, cumpre este papel planejador para as manifestações artísticas. Vai mais além, cria e concretiza grandes eventos que fazem nossa cidade se destacar no cenário da cultura nacional. Atuamos basicamente em dois campos complementares. O primeiro, como agentes difusores de nossa própria cultura, ao descobrir novos talentos e ao incentivá-los de todas as formas. O segundo, é como agentes que agregam conhecimento à produção local, por meio de intercâmbios com outros centros de difusão de cultura.
É função do Poder Público colocar à disposição da população todas as facilidades para o acesso às artes e suas diversas formas de manifestação. Ao examinar as ações da prefeitura nesta área, temos a certeza que o cidadão de Curitiba se sentirá recompensado pelo volume de trabalho com qualidade até agora desenvolvido. Mas de nada valeria este trabalho se não fosse o envolvimento de toda a comunidade em nossos projetos; se não fosse o amor que sentimos por esta cidade, que na realidade é a nossa própria cultura e arte.
- CASSIO TANIGUCHI é prefeito de Curitiba
