''Reduzir pela metade o número de pessoas que vivem na miséria e passam fome. Educação básica de qualidade para todos. Igualdade entre os sexos. Redução da mortalidade infantil. Melhoria da saúde materna. Combate a epidemias e doenças. Sustentabilidade ambiental. Parcerias mundiais para o desenvolvimento.'' Estes são os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM), também conhecidos como os ''8 Jeitos de Mudar o Mundo''.
Em setembro de 2000, governos dos 191 países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) reunidos durante a Cúpula do Milênio firmaram as metas que devem ser alcançadas até 2015. Maria Celina Berardinelli Arraes é coordenadora de Planejamento e Gestão Estratégica do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Ela esteve em Londrina participando de evento promovido pela Unimed e aborda nesta entrevista como o Brasil está trabalhando para atingir os ODM.
Quais são os maiores desafios para que se cumpram os desafios do milênio?
São três. Um é levar a todos os municípios brasileiros a melhoria de vida que os objetivos proporcionam. O Brasil, como país, está bem encaminhado para atingi-los, mas se for olhar a situação de cada município é bastante diferenciada porque temos muita desigualdade. O outro desafio é dar escala às boas práticas que ocorrem, fazer isso numa escala maior para que a gente possa usufruir dos resultados. E o terceiro desafio é a sustentabilidade dos resultados. Não é o fato de conseguir colocar as crianças na escola, mas temos que mantê-las na escola, com qualidade. Em termos mais específicos, o objetivo que temos mais dificuldade em atingir é a melhoria da saúde materna.
Por quê?
O porquê exatamente a gente não sabe. Mas são necessárias visitas mais regulares antes do nascimento do bebê. No Brasil também temos muitas cesárias e precisamos de um acompanhamento logo após o parto, que às vezes é meio relegado.
Há algum ponto onde o Brasil já avançou bastante?
Vários. O que mais avançou é a redução da pobreza, sem dúvida. E estamos bem na educação, praticamente universalizamos o acesso. Na questão da valorização das mulheres, a meta específica é acesso ao ensino igual para a mulher e para o homem. Na verdade, à medida que vai aumentando a escolaridade, temos mais meninas do que rapazes na escola.
Na educação o importante não é só o acesso, mas também a qualidade do ensino, afinal temos muitos alunos que são aprovados sem que tenham aprendido o conteúdo, correto?
Com certeza. Conquistamos várias coisas, mas também temos os contrapontos. Há uma grande distorção idade/série. À medida que vai aumentando a série, aumenta a distorção.
Na sustentabilidade parece que já avançamos muito. No que ainda temos que avançar?
Ainda temos redução de bioma, a Mata Atlântica diminuindo. Temos a questão do acesso a água e esgoto, que nas áreas urbanas progrediu razoavelmente, mas nas áreas rurais ainda está mais atrasado.
Um dos objetivos são as parcerias mundiais para o desenvolvimento. Muitos criticam o presidente Lula por fazer doações a outros países enquanto há muito para ser feito no País. Como a senhora avalia essa crítica?
A questão tem sempre dois lados. O investimento em outros países traz benefícios comerciais. E tem também a parte humanitária. Países como o Haiti estão em situação muito difícil e precisam de ajuda. Nós temos vários problemas de recursos, mas temos também problemas de gestão.
A senhora acredita que vamos conseguir atingir as Metas do Milênio até 2015?
Se continuar no ritmo que vem até agora, provavelmente vamos atingir todos, menos o de saúde materna, que requer muito esforço.