Prestes a completar 90 anos, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE -, criado em 1934 para substituir a Diretoria Geral de Estatística (órgão fundado em 1871 e que mudou diversas vezes de nome) vive um momento de incertezas após assumir como presidente o economista Marcio Pochmann.

A gestão dele à frente de outro instituto público de pesquisas, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre 2007 e 2012, foi recheada de polêmicas. Em um dos seus estudos, ele tentava provar a absurda tese de que o setor público é mais produtivo do que o setor privado. E, agora, no IBGE, tem manifestado admiração pelo modelo chinês, aquele que quando os números não interessam ao governo e ao partido comunista, simplesmente risca e apaga. Ou seja, é a tentativa nefasta de colocar a ideologia acima dos números, da verdade e da transparência.

O IBGE é um órgão subordinado ao Ministério do Planejamento, mas a indicação de Marcio Pochmann teve a interferência direta do presidente Lula e do PT, partido pelo qual foi duas vezes candidato a prefeito de Campinas e também a deputado federal, sem sucesso.

Quando o nome de Pochmann começou a ser ventilado para assumir o IBGE, a ministra Simone Tebet, do Planejamento, chegou a declarar que nunca tinha ouvido falar do economista. Mas a ministra teve que acatar a indicação do presidente Lula. E como já havia sido polêmica e conturbada a passagem dele pelo Ipea, no IBGE não tem sido diferente. Em setembro, um mês após assumir o órgão, ele passou oito dias na China onde disse ter conversado com o presidente do Instituto Nacional de Estatística. Da China voltou com essas ideias alopradas que têm causado apreensão em todos os que defendem a independência e a transparência nos dados estatísticos do IBGE.


O IBGE foi criado tendo como referência os mais avançados órgãos de pesquisa do mundo. Em recente palestra para os funcionários, ele disse que pretende alterar o modelo de divulgação de pesquisas, e chegou a citar à China como referência em estatísticas. É importante ressaltar que o IBGE é responsável por pesquisar e divulgar a taxa de desemprego, o índice de inflação (IPCA), o Produto Interno Bruto (PIB) e muitos outros dados essenciais para a economia, para a agropecuária, indústrias e tantas outras áreas. Sem transparência e credibilidade nesses dados, as estatísticas essenciais vão sofrer um apagão.

O economista Edmar Bacha, que presidiu e modernizou o IBGE em meados dos anos 80, tendo pautado sua gestão pela alta qualidade técnica e científica, disse ter ficado injuriado com a indicação de Marcio Pochmann para assumir o órgão. “Pochmann tem uma visão totalmente ideológica da economia. E não terá problema de colocar o IBGE a serviço dessa ideologia, como fez no Ipea. Como ex-presidente, estou ofendido com a indicação de Pochamnn para o IBGE”, desabafou.

O temor de Bacha é de que o IBGE se transforme no Indec, da Argentina, “órgão que perdeu a credibilidade por cometer distorções nos indicadores”. Marta Mayer, integrante da Comissão Consultiva do Censo Democráfico e ex-diretora de pesquisas do IBGE, em um longo artigo cujo título é “IBGE 90 Anos: É preciso abrir os olhos”, afirma estar em curso uma mudança de índole ideológica no órgão. E acrescenta: “vem aí “um ovo da serpente, cujo produto final é o aliamento do contraditório e a limitação da atividade da imprensa livre. A nova direção quer que o IBGE adote gestões sindicais e partidárias, com práticas de controle das estatísticas”, acusou Martha Mayer.

Como deputado que já enfrentou tantos embates no parlamento, estarei atento para impedir que esses desvios venham a ocorrer e a desfigurar a função do IBGE que é a de ser um órgão de Estado, e não um instrumento para uso deste ou daquele governo de plantão.

Luiz Carlos Hauly, deputado federal e economista tributário

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