Miguel Ignatios
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sábado, 04 de março de 2000
Prioridade à exportação Miguel Ignatios O ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias, após o episódio que culminou com a saída de Andrea Calabi do BNDES, parece ter apostado todas as suas fichas na elevação da capacidade exportadora do País, no curto prazo. De olho na meta dos US$ 100 bilhões, prevista para 2002, acertou a sintonia fina com seus novos colaboradores: Francisco Gros, no BNDES; Roberto Giannetti da Fonseca, na Camex, agora transformada em órgão executivo de coordenação; e Dorothéa Werneck, na Apex, o braço exportador do Sebrae. Nada mau para começar a mexer com um setor que, inexplicavelmente, não tem reagido como se esperava há mais de 12 meses de câmbio favorável. Ao priorizar o setor exportador, o ministro Tápias está fazendo uma aposta boa, uma vez que para o País voltar ao pleno emprego e adotar um novo modelo de desenvolvimento, nada melhor do que estimular as exportações até que se concluam as reformas em andamento e se melhorem as condições da logística de apoio (estradas, ferrovias, portos etc.). Por tais motivos, tudo indica que, aparadas as arestas políticas, que se seguiram à demissão de Calabi, em curto espaço de tempo, os resultados comecem a mudar substancialmente os números da balança comercial brasileira. Está tudo a favor. Até mesmo a safra de produtos agrícolas, que em pouco tempo estará sendo comercializada. Obviamente, não deve ter escapado à observação do ministro um fato relevante e ao qual os analistas não têm dado a devida importância. Trata-se da necessidade de ampliar o atual universo das empresas exportadoras. Durante muito tempo, principalmente na década transcorrida entre 1985 e 1994, apenas o export drive manteve a economia viva, enquanto o mercado interno debatia-se entre a recessão e os sucessivos planos de estabilização. Coube a um restrito clube de grandes exportadores (talvez uma centena de empresas) a tarefa de trazer dólares para o País. Durante esse longo período, a necessidade de gerar divisas, via exportação, era tão grande que simplesmente não havia tempo para engajar no export drive as médias e pequenas empresas brasileiras com potencial de exportação. Hoje, não é mais possível relançar o modelo exportador sem incluir nele as milhares de médias e pequenas empresas espalhadas pelo País, dos mais diversos setores da economia, e com razoáveis potenciais de exportação. É por isso que o setor não tem reagido, como se esperava, após a desvalorização do real, em janeiro de 99. A capacidade exportadora do clube dos 100 está aparentemente exaurida. A inclusão da Apex, com a tarefa específica de organizar e apoiar as pequenas e médias empresas no esforço de exportação, sugere que o ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias, tenha entendido claramente que, sem aumentar a base exportadora, ou seja, a quantidade e o tamanho das empresas engajadas nessa atividade, a meta dos US$ 100 bilhões em 2002 dificilmente será alcançada. Permito-me fazer uma última sugestão ao ministro Tápias: antes de dar a partida no novo export drive, não esquecer de avaliar, com a necessária profundidade, e fazendo as adaptações cabíveis, a fabulosa experiência acumulada pelos italianos ao longo das três últimas décadas. As pequenas e médias empresas da Itália respondem por nada menos do que dois terços do total das exportações. Um exemplo a ser seguido! - MIGUEL IGNATIOS é presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e da Fundação Brasileira de Marketing (FBM) E-mail: [email protected]