Com o desmonte do Estado brasileiro e a secura do quadro econômico não é fácil imaginar como se dará o financiamento das campanhas. Uma das vantagens das pesquisas de intenção de votos é justamente a de beneficar os candidatos que aparecem na frente. No caso paranaense, isso beneficiaria Alvaro Dias de uma forma tranquila, desde que o senador estivesse firme num partido e não aparecesse como uma espécie de dissidente ao assinar a CPI da Corrupção. No exterior, em férias, ele deve estar refletindo sobre o erro de ser induzido por aquela provocação de Requião que o apontou como ‘‘tigrão’’ aqui e ‘‘tchutchuca’’ em Brasília.
Um financiador de campanhas – normalmente aí predominam beneficiários atuais ou futuros de empreitadas, terceirizações, prestação de serviços, enfim daquele tipo de empresário que gravita em torno do poder – anda arrepiado e por muitas razões: uma delas que as exigências da cidadania começam a colocar em dúvida as prestações de contas à Justiça Eleitoral, como se dá agora com FHC.
Tudo aconselha cautela na forma como é dada a contribuição (o Caixa 2 que antes era uma garantia para não comprometer ninguém começa a ser devassado) e em que condições. Muitas empresas, como a Refripar, por exemplo, agora já absorvida pela Electrolux, não fazem parte do livro-ouro. E as montadoras entrariam nessa ou se poupariam de constrangimentos? Já as empresas do pedágio como as dos alugueres de carros (um absurdo) vão aparecer de novo, bem como as de consultoria.
Mesmo quando o governo vai mal e tem tudo para perder (dá para lembrar a eleição em que Richa bateu Saul Raiz), o que se viu foi que as empreiteiras de maior porte, apesar de pressentirem a derrota, deram mais dinheiro para a campanha oficial, ainda que concedendo algo para a oposição. Como não há ainda esperança de um sistema de financiamento oficial (que não eliminaria o outro), haverá novamente a procura de recursos do setor privado, aquele que não sabe viver fora da área pública, ainda que com o discurso safado do neoliberalismo.
É cedo para que os financiadores tomem suas decisões. Pretendem, como sempre, ganhar ou, na pior das hipóteses, perder menos. E com um quadro desarticulado, em que não aparece sequer o candidato do oficialismo, é temerário decidir.
AFORÍSTICO
O governo está convicto de que vendendo a Copel resolve todos os seus problemas. Nem os de caixa serão solucionados, essa a verdade
EQUÍVOCOS O PSDB alaranjado do Paraná (só será laranja se tentar transformar um partido nacional em organização guiada pela prioridade do campanário) não sabe o que fazer com a pesquisa vitoriosa, já que o senador Alvaro Dias vai se recusar a retirar a assinatura da CPI.
Pesquisas intermediárias induzem a erro: quando Alvaro enfrentou Lerner estava com mais de 70% das preferências e o ex-prefeito perto de 5%. O mesmo aconteceu em 1985 para a Prefeitura de Curitiba, quando Lerner se aproximava dos 80% e Requião empacava nos 4 ou 5. Na de governador, Lerner deu uma ‘‘lavada’’ de primeiro turno, com Requião, que devia a Alvaro o mandato no governo, omitindo-se porque percebia que, ao aproximar-se do seu benfeitor, a intenção de votos para o Senado caía. E na de prefeito da capital, Requião venceu Lerner por menos de 20 mil votos, carregado às costas por Richa.
Exemplos dessa ordem são múltiplos e o próprio Rafael Greca, que apesar da sua desastrada passagem pelo ministério, comemorou os 5% e lembrou que estava lá embaixo na campanha prefeitural em que detonou Carlos Simões, hoje aliado comum, e aquele tempo com Alvaro Dias, por quem era chamado afetuosamente de ‘‘Tiririca’’.
Observando tudo isso parece que merecemos os políticos que temos, uma nata de mediocridade para ninguém botar defeito. Vamos ainda padecer muito e o remédio é ‘‘idealizar’’ o passado lembrando de Canet, o último frutuoso que tivemos.
BIZARRICE Como dizia o filósofo, ‘‘mais vale um frutuoso que um furtuoso’’.
AXIOMA Mário Covas aparecia nas pesquisas nacionais de governadores como um dos últimos. Teve, no entanto, a glória da exaltação na morte. É argumento para tranquilizar os que aparecem nos últimos postos, embora ninguém esteja disposto ao ‘‘desencarne’’ para ser reconhecido.
GLOSA ‘‘Só há um jeito de o Brasil recuperar seu futebol: tirar Ricardo Teixeira da CBF. A partir daí tudo se arruma.’’ Jornalista Carneiro Neto. O problema maior da Seleção está mais fora do que dentro do campo.
EPIGRAMA Cassio Taniguchi, prefeito de Curitiba, queixa-se da ausência da oposição nas suas audiências públicas. Monta o palco e ainda quer a oposição como figurante. E subestima os chatos piramidais que tanto a oposição como a situação têm.
FOLCLORE Roberto Requião está em casa e recebe a visita do seu secretário Goiá Campos. De repente o governador, com um ar sério, pergunta ao seu auxiliar se ele acredita em Deus.
- Claro, governador. Acredito piamente.
- Obrigado, Goiá. Eu sabia que você não me faltaria.
Goiá Campos só percebeu o sarro quando captou emoção e até um certo tremor na fala de Roberto como se estivesse em catarse.
CROMO Como fagulha de prata, o cardume de peixe-rei é atraído pela luz do barco: a noite é fria e ele desponta hoje nas barragens do Iguaçu, desprezada a memória atávica das lagoas do sul em que o mar e o rio se encontram.
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