Há uma certa conotação política na sugestão para o afastamento do coronel Borges Vieira da Casa Militar. Com o tempo de serviço ‘‘estourado’’ e podendo ser alcançado pelos rigores da Lei Ricardo Chab, que afasta de forma radical os inativos das funções comissionadas, Vieira poderia, uma vez mais, ao longo do governo Lerner, e isso aconteceria pela terceira vez, influir no processo de escolha do comando.
Vieira se credenciou junto ao grupo do governador Lerner já na gestão Roberto Requião, quando, ocupando funções do setor financeiro da PM, trouxe sucessivas denúncias aos jornais, especialmente a esta Folha, sobre irregularidades no interior da corporação. Lembro de algumas: compra de rádios transceptores e de botas, devassa no acordo que havia entre a milícia e o Banco do Brasil, em que, em troca de atendimento à guarda das agências em todo Paraná, o banco público dava dinheiro para aquisição de combustível e cuja prestação de contas era inteiramente irregular sob o ponto de vista documental.
É uma figura polêmica na PM, ainda que incluído como integrante do chamado grupo de oficiais ‘‘pensantes’’. Abra-se aqui um parêntese. Há mais dois grupos doutrinários, na verdade uma definição de estilo comportamental, na corporação: o dos ‘‘tementes’’ (os estritamente apegados às regras) e dos ‘‘disciplinados’’ à ordem superior, o que nem sempre significa ajuste rigoroso aos códigos internos e à própria lei, já que não é incomum o governo colocar seus milicianos em ‘‘frias’’ e até no descumprimento de normas gerais.
Com a instalação da CPI e a cobertura jornalística de boa qualidade (nenhuma, porém, no nível do trabalho de anteontem da repórter Luciana Pombo) de pouco adiantam as notas oficiais do Palácio Iguaçu. Da mesma forma que a ausência de respeito ao governador, mais por seus auxiliares do que pela oposição, é que gera a baixa credibilidade. Também a falta de ‘‘punch’’, de energia, daquele que elegemos por duas vezes é de irritar. Lerner não é um fascista como alguns dos seus antecessores, não é perseguidor e nem truculento e caracteriza-se como um ameno até para seus críticos, daí se interpretar esse embrenhamento nas malhas das linhas telefônicas grampeadas como algo que não tem o seu aval, obra dos mais realistas que o rei.
A renovação do comando da PM está no itinerário da crise deflagrada com essa história controversa dos telefones sob escuta, como aconteceu em 1999 com a secretária Maria Elisa Paciornik, que tinha inimigos declarados dentro do secretariado. Esse fato antecedente desmonta a versão do governo e mostra que o Ministério Público não tem um ritmo adequado em questões do gênero, brecado, às vezes, por acomodações ritualísticas com o Executivo.
BIZARRICE
Aí o formalista perguntou ao conselheiro do Tribunal de Contas se os grampos palacianos tinham observado a regra da licitação. Pelo jeito queria pegar o governo como os States fizeram com Al Capone, flagrado em fraude fiscal
AXIOMA Sabem por que os foragidos da cadeia de Cornélio Procópio retornaram? Vejamos as hipóteses: A) A vida lá fora está dura para ganhar o pão; B) O Arruda senador deu o exemplo do arrependimento e eles o seguiram; C) Falta de segurança em andar livre por aí, o que ameaça a maioria. Está aí uma sugestão de pergunta para o ‘‘Show do Milhão’’.
EPIGRAMA No dia em que entregaram o Fernandinho Beira-Mar à polícia brasileira a CPI (a gelada, a fria, a ‘‘laranja’’) estadual apresentou seu relatório: a distância entre a significação de um fato e a vacuidade do outro explica, em grande parte, porque somos todos reféns do crime organizado.
SPRAY Um dos principais focos da CPI estadual do crime organizado, já que não ouviu os indiciados principais da CPI federal (toda a cúpula da Polícia Civil), foi o exame de 22 assassinatos com características de queima de arquivo na Região Metropolitana. - De 22, apenas oito ocorridos entre 11 de março e 24 de abril foram identificados e listados, em maioria jovens viciados envolvidos com o tráfico de drogas. - Em maio foi solicitada a designação de um delegado especial e este em junho, ao depor na CPI, não tinha qualquer fato novo a aduzir, o que levou à sua substituição. - O relatório é assim, todo cheio de vacuidades e pedidos de providências, pelo qual se pode concluir que o regime democrático, além de antieconômico (quanto custou tanta diligência?), é altamente dispersivo. - Uma perguntinha inocente: os deputados Algaci Túlio e Ricardo Chab, excelentes repórteres policiais e principais integrantes da CPI estadual, ignoravam completamente, por exemplo, a relação entre desmanche de veículos e proteção de setores policiais? - Como pode o empresário Mandelli ter livre trânsito em áreas policiais ao ponto de inquirir Vera Crovador no processo que investigava a morte do seu marido, criminalista Luis Crovador?
FOLCLORE De repente a editora de Economia entra na Redação e diz que a Kaiser colocou sua sede à venda. Um ar de sofrimento atinge a alguns. Daí vem a explicação: é a Chrysler, não a Kaiser. Graças a Deus, ainda bem.
CROMO Purgação de culpa lírica, a das crianças: consumada a morte da borboleta papaná, lança-se o cadáver na mata com fé na ressurreição.
AFORÍSTICO Se a oposição é essa que conhecemos e o governo o que está aí parece não haver possibilidade de salvação para o Paraná.