Testemunhei, em 1953, centenário da emancipação política do Paraná, no salão nobre da Faculdade de Direito de Curitiba, numa reunião da Comissão Interestadual da Bacia do Paraná-Uruguai, um discurso do presidente Getúlio Vargas anunciando a criação da Eletrobras. A CIBPU era constituída dos Estados banhados pelos rios Paraná-Uruguai e a rigor um órgão do governo paulista, afinal o eixo de tudo.
Não havia instância mais apropriada para lançar a semente do que um encontro que buscava a integração e a exploração adequada dos recursos comuns. Nesse particular aprendíamos muito com os States. Tanto que a Hidrelétrica de Paulo Afonso, a primeira de porte do País, era um decalque de experiências do padrão keynesiano ou mais propriamente da Autarquia do Vale do Tenessee, forma bem intervencionista da atuação estatal e que envolvia uma região geoeconômica muito específica e com exploração integrada dos recursos hídricos para fins de abastecimento de água potável, produção de energia, montagem de hidrovia e programas de irrigação e até de turismo, isso sem falar em reflorestamento e tantas outras ações.
Dá para imaginar a resistência com o vigor do federalismo ianque e o seu agudo senso de autonomia que se estabeleceu. Tudo isso veio, a reboque, do chamado ‘‘New Deal’’, estratégia global para reanimar a economia atingida fortemente pela depressão e o crack da Bolsa em 1929.
A reação ao anúncio de Getúlio foi um despropósito de histeria: um dos chefes dos cartéis energéticos, que pescava trutas no Canadá, botou em dúvida a palavra do presidente brasileiro. Na Bolsa houve queda em ações das empresas de energia. Na Carta Testamento, menos de um ano depois, Getúlio vai se referir à conspirata contra o funcionamento da Eletrobras.
Naquele tempo a ‘‘Guerra Fria’’, ainda a meio caminho, permitia essa liberdade a dirigentes de países em desenvolvimento, hoje impossível, pois o que se vê é um modelo imposto pelo FMI e aceito, com passividade bovina, pelo Brasil. Se a quadra atual fosse menos amarrada a resistência seria maior à venda da Copel.
Getúlio suicidou-se em agosto de 54, em outubro daquele ano Munhoz da Rocha fundava a Copel. Lembrar dessas coisas é importante como também daquela frase de Lerner que disse preferir morrer a vender a Copel. Mais uma dívida.
LÚDICO
Arlindo Barbera, de Rolândia, quando o Brasil deu vexame na Austrália, Jogos Olímpicos, fez uma paródia de ‘‘Os Lusíadas’’ de Camões sob o título de ‘‘Os luzidos’’ assinado por Luiz de Cam(ar)ões. Os primeiros versos são os que seguem: ‘‘Os atletas e cartolas convocados//Todos com ares de bacana// Por mares já muito navegados// Foram até a terr‘Australiana,// E em disputas muito pouco esforçados,// Bem menos do que pode a força humana,// Entre gente tão remota se lascaram// Naquele fiasco que tanto lastimaram!’’ E adiante: ‘‘E vós, galeras minhas, pois criado// Tendes em mim um crítico mordente// Que sempre em prosa humilde espinafrado// Foi de mim nosso time duramente;// Dai-me agora um som alto e sublimado,// Um estilo grandiloco e eloquente,// Para que a arrogante FIFA ordene// Que sinta inveja e se condene.//’’
MEMÓRIA O jogador Rossi, meia do Santos, campeão do mundo, veio encerrar a carreira no Coritiba, onde também botou a faixa de 68 e 69. Na noite de sua despedida, lembro bem, ele entrou no Couto Pereira com as chuteiras na mão. Redondinho, construtor e executor de jogadas em chutes de longa distância, visivelmente emocionado, andava lentamente sob os aplausos. Aí um desses selvagens que dominam os estádios perguntou ao meu lado: ‘‘quem é o gordinho que acaba de entrar em campo?’’
LÍRICA Há expressões populares que seriam hoje impraticáveis nesse tempo de semântica ‘‘funk’’. Uma delas, quase como um autopopular ou brincadeira de roda, reinava no desafio entre os piás e vinha tudo rimado: ‘‘Guri lambari// qué apanhá?// pule aqui!//’’ Nada mais apropriado do que comparar um guri daqueles tempos com um lambari, peixinho de minha estima, um dos mais sociais e que só se distancia do homem quando lhe negam oxigênio nas valetas, rios e riachos.
Outra expressão, tida como apropriada para definir os piás, é azougue, nome popular do mercúrio que no solo se atomiza em microesferas com aquela agilidade indefinida dos meninos de todos os tempos.
O RIO ‘‘Rio não caga!’’ Essa frase é de Rafael Greca num dos seus choques com ecologistas, aos quais chamou de ‘‘biodesagradáveis’’. Duas boas sacadas ou a rima seria outra?
PMDB ‘‘O que aflige o PMDB pode ser resumido ao modelo de ações que domina o partido nos últimos anos. A ocupação das principais funções partidárias não pode estar concentrada nas mãos de um mesmo grupo. A hegemonia é autodestrutiva. Não se impõe liderança pela pressão. A democracia deve pautar as relações entre os peemedebistas. É a sua marca.’’ Trecho do manifesto de três deputados federais (Fruet, Micheletto e Serraglio) contra o mandonismo dentro do partido.
Um detalhe: tem muita gente no PMDB que gosta do estilo ditatorial que aliás se impõe - sempre foi historicamente assim - pela intimidação. Esse tipo de militante prefere o ‘‘centralismo democrático’’. Quem gosta de apanhar (essa é imperdoável em tempos feministas) é mulher de apache.