Se há algo que o governador paranaense, apesar de todos os sacrifícios que está impondo à sociedade, não soube fazer é justamente a questão dos ‘‘deveres de casa’’, imposição que precede de muito o tal do ajuste fiscal. E é nesse ponto que não dá para comparar a sua trajetória com a de Mário Covas, este, como ele, também ex-prefeito da capital e reeleito governador.
Em primeiro lugar a coragem e a determinação: cortou a carne rente ao osso nos gastos públicos, logo ele, Covas, que era um defensor do patrimonialismo, do Estado agigantado, de reservas de mercado e do sindicalismo. Mandou mais de 130 mil servidores para a rua por falta de outra opção e assim mesmo, com todo esse ônus, conseguiu a reeleição. Semelhanças ficam na experiência prefeitural e na reeleição. De coragem nem cabe falar, bastando lembrar o vexame daquele circo do MST acampado por seis meses no Centro Cívico, despudorada demagogia.
Alguns técnicos fazendários que não tiveram também a sensibilidade de alertar o governador paranaense para o abismo que estava cavando (gastos de quase R$ 500 milhões em propaganda em pouco mais de quatro anos, quase R$ 100 milhas ao ano, quando São Paulo não despendia nem R$ 70 milhões; o afano generalizado havido no Banestado e a forma danosa, que deixou sequelas, como se deu o leilão) lembram agora que, além de todos os pepinos, só de precatórios, agora fatais com a Emenda Constitucional número 30, o tesouro deve este ano mais de R$ 700 milhões. Se não houvesse a roubalheira da Leasing e outros desperdícios tudo poderia ser encarado. Esse manancial de recursos vai abrir outro rombo, já que os precatórios podem ser usados no pagamento de impostos.
São Paulo saiu do sufoco e entrou em superávit sob Covas; o Paraná está o caos e o governo não sabe, a cada fim de mês, como honrar a folha do pessoal. Nem vendendo a Copel, ânsia máxima dos desesperados, acerta o seu caixa. Além do mais nesta semana voltam mestres e funcionários do terceiro grau a pleitear reajustes: também as polícias, Civil e Militar, estão nessa como as demais carreiras do funcionalismo sob arrocho há seis anos.
As endemias estão aí – dengue, hantavirose, malária – para revelar o quanto é imobilista a gestão atual. Só na dengue o salto de 1999 para 2000 foi de mais de 600%, o que pode indicar tendência para a pandemia. Boa parte do nosso drama se deve também aos incentivos aos grandes empreendimentos que só vão frutificar se não fecharem as portas como pode acontecer com a Chrysler.
Covas enfrentou essas duras realidades. Lerner foge delas com a fantasia sucessória, sem base, sem fundamento, de uma obra que não tem como promover seu autor pelo notório desastre.
Mas não sejamos injustos com o nosso governador. O paralelo pode ser feito com a esmagadora maioria dos governadores e raros se aproxima do paradigma, um deles o Tasso Jereissati, candidato de Covas a presidente.
BIZARRICE
Até hoje o Tribunal de Contas só desaprovou as contas de Leon Peres, isso porque já estava cassado. Agora foi preciso que Belinati fosse cassado para que mandasse apurar as suas contas, como está fazendo. Igualmente com Maringá e mais adiante com Foz do Iguaçu. Sugere o silogismo que se faça uma cassação geral para que o TC funcione. Em lugar de posse, cassação. Aí funcionaria.
AXIOMA Por falar em Belinati, o Rubinho Ferreira, descascando goiabinhas em Guaratuba, volta a atacar: ‘‘Se ele sobrevive com R$ 4,6 mil de aposentadorias, dá para imaginar a folga da situação anterior.’’
GLOSA O PT estadual briga com o municipal por causa das dívidas de campanha.
Drummond de Andrade já dizia: ‘‘O poeta municipal discute com o poeta estadual e o poeta federal tira ouro do nariz.’’ Lula seria o poeta federal nessa briga entre os diretórios? Se sair ouro do nariz, dá para pagar as contas.
EPIGRAMA Numa festa de governistas a pretexto de comemoração da formatura de uma filha de um secretário de Lerner deram piche pra valer em jornalistas que criticam o Palácio Iguaçu. Como não me acredito entre essas pérfidas figuras, tão injustas, nem me preocupo. Afinal, tapinha não dói e numa certa perspectiva para o governo em relação à mídia tá tudo dominado. E ou não é, tigrão, popozuda, cachorra, preparada e tchutchuca?
SPRAY Ontem foi dia de ofensiva de Alvaro Dias, que mandou documentos de gastos eleitorais para o MP de Maringá que investiga o caso Paolicchi. - Aproveitou para tirar sarro de Lerner por suas declarações precipitadas de que nada tinha a ver com o caso e desmascarado por fotografias. Acontece que o filme do acordo branco está velado. - Um absurdo a especulação esportiva de que Alvaro teria influído para tirar o Paraná e botar o Malutrom na Copa Brasil. Não é burro de fazer algo dessa natureza porque afora o lado ético, já que preside a CPI do Futebol e tem o compromisso de não se aproximar de indiciados, também é um derrotado no episódio, já que Minas, Goiás e Rio Grande do Sul emplacaram quatro clubes e o Paraná apenas três. - Especulação maldosa explora o fato de o senador ser correligionário e amigo de Joel Malucelli, criador do Malutron.
FOLCLORE O Tribunal de Contas do Paraná criou um problema insolúvel para a Casa do Estudante por ter desaprovado suas contas. Agora a UNE anuncia manifestação pela extinção desses órgãos, iniciando-a no Paraná.