Luiz Geraldo Mazza
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 06 de março de 2001
Mais fria do que pinguim de geladeira, tão cafona quanto, a comissão aprovada na Assembléia Legislativa, a pretexto de respaldar as ações do Ministério Público no caso dos desvios de Maringá, é vexaminosa e bem à altura de um poder que teve a ousadia de anular uma CPI (a do caso sinistro da venda das ações do Sercomtel para a Copel) já instalada.
Nada surpreende do que possa vir do Legislativo que criou CPIs laranjas para evitar as da oposição e pratica, de forma religiosa e com unção, a subserviência que a transformou num apêndice do Executivo. Só dissimula operar como poder autônomo quando seus integrantes (a maioria, é claro) visam outros objetivos, na base da barganha, alegando falta de assistência nas bases. Há uma forma de constrangê-la: a pressão dos grupos organizados, as mensagens pela Internet, a cobrança na rua, enfim algo que tenha vida. Algo houve ontem,
frutos das mediações de Alceni Guerra, tanto que cinco vetos de Jaime Lerner foram mantidos. Risível, como sempre, depois de tanta encenação.
O Ministério Público, como se fosse o justiceiro, o cavaleiro solitário do faroeste, personagem de balada de Romain Roland, está fazendo o papel que deveria caber a outros órgãos, dentre eles, os legislativos estadual e local, a Câmara Municipal e respectiva comissão de tomada de contas, e, é claro, o Tribunal de Contas, enfim aqueles a quem incumbiria prevenir os desvios. Antes só, do que mal acompanhado, como sugere o brocardo popular, o Ministério Público pode dar conta de sua tarefa como o está demonstrando, tanto em termos locais quanto nacionais. À Assembléia, que se recusa a fazer o que deveria, implantar a CPI dos casos paradigmáticos de Maringá e Londrina (este só exibiu a parte visível do iceberg até agora), cabe melhor o silêncio e a omissão, enquanto não limpar a cara do escândalo de haver revertido o processo Sercomtel-Copel de forma comprometedora. Essa nódoa é irremovível como também a suspeita de bandalheira, que se presume tenha havido, tal o traço rocambolesco dessa burla de teatro mambembe.
BIZARRICE
Agora o incêndio na montadora da Chrysler, para completar o amargor da notícia do seu fechamento, como antes se dera com as demissões na Audi-Volks, sugere a necessidade de protegê-las com uma chuva torrencial de água benta. Bentíssima.
AXIOMA Se o evento de Maringá, com as ações do Luis Antônio Paolicchi, está provocando um cataclisma no governo e na oposição, dá para imaginar a que ponto chegaria a crise se o ex-prefeito de Londrina, Antonio Belinati, resolvesse falar tudo o que sabe. Um jornalista do interior diz possuir uma gravação do ex-prefeito, de uma hora, na qual entregaria todo mundo. É bem duvidoso que isso exista porque dentre as vocações de Belinati não se inclui a de autodestrutivo, já que seria impossível atribuir algo aos outros que não o acabasse envolvendo.
GLOSA Curitiba caminha, em termos policiais, para transformar-se numa Baixada Fluminense. Esse fator respondeu em grande parte pelo desgaste de Cassio Taniguchi, evidenciado na última campanha eleitoral.
Cassio também foi alvo de uma cena de sangue, ontem, na Boca Maldita ao submeter-se ao teste de glicemia. A taxa de açúcar no sangue do burgomestre é de 81mg/100 quando a normalidade vai até 140mg/100. Glicemia e ambição baixas,
astral bem mais elevado do que o dos outros candidatos à sucessão.
EPIGRAMA O delírio de Lerner relativamente à sucessão presidencial lembra o daqueles aparelhos estudantis que decidem numa plenária condenar, por exemplo, os Estados Unidos pelo ataque ao Iraque e da qual todos saem emocionados, quase chorando. O mundo estabulado numa sala: assim foi outro dia em Brasília num jantar com jornalistas para ativar a fantasia. Brincalhões.
SAL NA LESMA Aos poucos, diante da constatação de que há uma crise mundial em torno das montadoras, vão se desmistificando as alegadas vantagens desses investimentos. Anteontem, no Rio, o engenheiro Glauco Arbix, do Departamento de Sociologia da USP, mostrou que, graças à estupidez da guerra fiscal, Estados e municípios pagaram US$ 174,3 mil em média por emprego, enquanto nos States essa relação cai para US$ 4.000. Uma diferença monumental.
Lester Thurow, tido como profeta do capitalismo, havia feito, no Brasil, a sinistra advertência e mostrava a obviedade de que fatores como os de infra-estrutura é que deveriam decidir a localização. Tese de Requião e Alvaro Dias, também, ainda que sem justificação técnico-doutrinária consistente.
Se tivéssemos um Legislativo sério essa questão, no mínimo, provocaria a convocação dos economistas do governo para a indispensável justificativa.
SPRAY Vem aí nova pressão dos professores sobre o governo, desta feita apoiada por outros segmentos funcionais.- A que mais preocupa é a da PM, esta sim capaz de jogar a administração contra a parede. No caso em dois sentidos.- A batalha contra a privatização da Copel cresce neste mês e no front bem mais adequado: o Judiciário. No político, o Palácio Iguaçu dá as cartas, pois as vaquinhas de presépio mal ensaiam tímidos balidos.-
FOLCLORE Falam num desvio de cinco milhões de reais em Mangueirinha. Em termos proporcionais é mais do que as alegadas centenas de milhões de Foz do Iguaçu, de Londrina e Maringá. Que mangueirão, gente!
CROMO O galo acreditava que a manhã surgia com seu canto. Sem galo, sem manhã.
AFORÍSTICO Mário Covas morre: vai-se a exceção, fica a regra intolerável.