Horas de suspense foram vividas pela equipe de Lerner anteontem, pois se anunciava medidas drásticas para as questões principais da administração, e depois de uma longa jornada do dia para dentro da noite, encerrada às 2 da madrugada de ontem, chegou-se a conclusão nenhuma. Das trapalhadas, em que tanto se envolve o governo, essa não foi a maior e nem vai ser a última. Se a Igreja, com o peso de sua autoridade, já perdeu precioso tempo para discutir temáticas ornamentais como a sexualidade dos anjos, não há porque se impressionar com essas formas de ócio nervoso e na contramão daquele do sociólogo italiano da moda, o Domenico De Masi, essencialmente criativo.
Um texto interessantíssimo de Sêneca, diante de uma Roma com referências urbanas acentuadas, trata desse dispêndio de energia ao falar dos novidadeiros que, movidos por uma espécie de ‘‘delírio ambulatório’’, andam de um lado para outro sem nada fazer de útil e sentindo-se, depois de marchas e contramarchas, esmagados por um cansaço intolerável, retornando à casa em esgotamento físico.
É verdade que um filósofo poderia repetir Sartre no enunciado de que ‘‘a vida é uma paixão enlouquecida’’, e tentar justificar esse encontro palaciano sem definições e que mergulhou madrugada a dentro como na peça de Eugene O’Neill. Rolar conversa numa roda boêmia tem razão de ser na sua própria marca de culto ao lazer, à disponibilidade, enfim. Inimaginável que isso aconteça num ambiente sisudo das reuniões (chatíssimas, quase sempre) do secretariado, e das quais se aguarda, com relativa impaciência, alguma decisão.
Pensando bem, para certos estados de espírito o não fazer e o perder o tempo deliberadamente é menos pernicioso do que ações de governo.